Especialistas destacam importância da maturidade ativa, das relações intergeracionais, de alcançar a longevidade e do envelhecimento com qualidade de vida em Novo Hamburgo e região.
O programa Estação Hamburgo trouxe uma edição especial sobre envelhecimento, longevidade e bem-estar, reunindo mulheres que representam instituições e projetos que fazem a diferença na vida da população idosa do Vale do Sinos. O debate, transmitido pela Vale TV, contou com a participação de Jéssica Antoniazzi e Miriam Plentz, do Sesc Novo Hamburgo, Roberta Pletsch, diretora da Merkator Feiras e Eventos, e Geraldine Alves, psicóloga, professora e pesquisadora da Universidade Feevale. A conversa girou em torno dos desafios e conquistas do envelhecer, da relevância do convívio social e da necessidade de políticas públicas voltadas à terceira idade.
“Como queremos envelhecer? A forma como vivemos hoje vai determinar a qualidade da nossa velhice”, provocou o apresentador Rodrigo Steffen, ao abrir o debate.
Envelhecimento em pauta: um retrato do Vale
A professora Geraldine Alves, da Feevale, apresentou dados de um estudo inédito sobre o envelhecimento em Novo Hamburgo, conduzido pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Gerontologia. Segundo o levantamento, quase 20% da população hamburguesa tem mais de 60 anos, e o número tende a crescer rapidamente nos próximos anos.
“Estamos deixando de ser um país de jovens para nos tornarmos um país de pessoas idosas. Já há mais idosos do que jovens em várias regiões, especialmente no Rio Grande do Sul”, explicou Geraldine.
O dado, que revela uma transição demográfica profunda, desafia o poder público, as empresas e as famílias a repensarem estruturas e atitudes. A predominância feminina na velhice é outro ponto de destaque: a maioria das pessoas idosas é composta por mulheres, muitas delas vivendo sozinhas — uma realidade que demanda políticas específicas de apoio, segurança e integração social.
Sesc e o exemplo da maturidade ativa
Há mais de 60 anos o Sesc desenvolve programas voltados à terceira idade. Em Novo Hamburgo, o projeto Maturidade Ativa é referência na promoção da saúde, da autonomia e da convivência.
Atualmente, o grupo reúne 90 participantes e tem lista de espera, reflexo do sucesso e da relevância das atividades. Além dos encontros semanais, o projeto promove oficinas de arte, dança, musicalização, jogos cognitivos, palestras e viagens.
“Trabalhamos o corpo, a mente e o convívio. É um olhar integral para o envelhecimento”, destacou Miriam Plentz, diretora do Sesc Novo Hamburgo.
“O grupo é gratuito e funciona como uma rede de apoio. Muitos chegam tímidos e encontram aqui um espaço de pertencimento e alegria”, completou Jéssica Antoniazzi.
Em Campo Bom, o Sesc mantém outro grupo ativo há mais de duas décadas, formado quase exclusivamente por mulheres — muitas delas com 70, 80 e até 95 anos. O espírito de solidariedade entre as participantes é o diferencial: as integrantes se revezam para buscar colegas em casa, ajudam nas tarefas e cuidam umas das outras.
Economia prateada e novos horizontes
A empresária Roberta Pletsch, diretora da Merkator e responsável pela realização da Geronto Fair, destacou o potencial econômico e social do público 50+. Segundo dados apresentados por ela, 34% da população gaúcha já tem mais de 50 anos, e o Brasil soma 28% nessa faixa etária.
“A cada 20 segundos, alguém no Brasil completa 50 anos. É um público que movimenta bilhões e exige atenção das empresas. Quem não pensar nessa faixa etária, vai ficar para trás”, afirmou.
Roberta compartilhou também o sucesso da Geronto Fair 2025, realizada em setembro na Fenac, em Novo Hamburgo, que já tem nova edição confirmada para 9 a 11 de setembro de 2026. O evento, pioneiro na abordagem da longevidade como oportunidade de negócio e bem-estar, consolidou-se como espaço de inovação e troca de experiências entre empreendedores, profissionais de saúde e o público idoso.
Felicidade e bem-estar: o caminho da longevidade
A fala da professora Geraldine Alves conectou a ciência à vida cotidiana. Ela defende que o segredo do envelhecimento saudável está no bem-estar, entendido como a soma de pequenas alegrias, boas relações e hábitos saudáveis.
“Não dá para ser feliz todos os dias, mas é possível buscar bem-estar. Ele vem do trabalho que dá satisfação, do chimarrão com amigos, das boas conversas, da alimentação equilibrada e da atividade física regular”, afirmou.
Inspirando o público, Geraldine citou o exemplo de Anton Karl Biedermann, nadador centenário homenageado na Assembleia Legislativa, que mantém uma rotina de alongamentos, musculação e otimismo. “Ele é a prova viva de que envelhecer é uma escolha diária de atitude”, completou Roberta.
O Estatuto da Pessoa Idosa e os novos desafios
Durante o programa, as convidadas relembraram os 22 anos do Estatuto da Pessoa Idosa, marco legal que assegura direitos como saúde, educação, lazer e inserção no mercado de trabalho.
“É fundamental que os idosos conheçam seus direitos. Estamos distribuindo exemplares do Estatuto e promovendo palestras e atividades para conscientizar a comunidade”, disse Miriam Plentz.
A pesquisadora Geraldine acrescentou que o envelhecimento deve ser encarado como uma responsabilidade coletiva. “Não é um problema dos idosos, é um tema de todos nós”, afirmou. Ela também alertou para a violência doméstica contra idosos, apontando que Novo Hamburgo registra cerca de 400 casos por ano, a maioria contra mulheres, muitas vezes cometidos por filhos ou netos.
Entre o trabalho e a vulnerabilidade
Outro ponto discutido foi a permanência de pessoas com mais de 60 anos no mercado de trabalho — ora por vontade própria, ora por necessidade. A professora Geraldine destacou que a aposentadoria muitas vezes não cobre as despesas básicas, o que leva idosos a continuarem trabalhando.
“O problema é quando isso deixa de ser uma escolha e se torna uma obrigação”, enfatizou.
Roberta lembrou que há avanços no combate ao etarismo corporativo, com iniciativas como o selo CAF (Certificate Age Friendly Employer), que reconhece empresas que valorizam profissionais mais velhos. “As empresas precisam entender que experiência é um ativo. Funcionários 50+ permanecem mais tempo e contribuem com estabilidade e maturidade”, destacou.
Integração entre gerações: o futuro começa agora
O Sesc também vem promovendo ações intergeracionais, aproximando crianças e idosos em projetos de convivência. Em uma das oficinas, meninos e meninas de 7 a 10 anos aprenderam tricô e crochê com as idosas, enquanto ensinam a elas inclusão digital e jogos modernos. A troca de saberes gera respeito, empatia e pertencimento.
“É preciso formar gerações que enxerguem o envelhecer com dignidade. Quanto antes começarmos esse diálogo, mais justa será a sociedade que estamos construindo”, pontuou Miriam.
O mês do longeviver: outubro de celebração
O Sesc celebra em outubro o Mês do Longeviver, com o tema Direito, Voz e Respeito. A programação inclui palestra com o Dr. Leandro Minozzo sobre longevidade sustentável, no Centro de Cultura de Novo Hamburgo, além de caminhadas em Novo Hamburgo e Campo Bom, integrando centenas de idosos em atividades de lazer e saúde.
“Esses eventos são gratuitos e abertos à comunidade. Queremos que cada vez mais pessoas se inspirem a cuidar do corpo, da mente e do coração”, reforçou Jéssica Antoniazzi.
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Uma lição de vida e propósito
Ao encerrar o debate, Rodrigo Steffen resumiu o sentimento do programa:
“Falar sobre envelhecimento e longevidade é falar sobre o presente. O que fazemos hoje determina o amanhã. Precisamos viver com propósito, alimentar nossos laços e respeitar quem veio antes.”
O encontro mostrou que envelhecer bem é mais do que alcançar uma idade avançada — é manter o olhar curioso, o corpo ativo e o coração aberto às novas experiências. No Vale do Sinos, instituições como o Sesc, a Feevale e a Merkator estão mostrando que a longevidade pode ser um caminho de aprendizado, alegria e transformação social.
Debate realizado no dia 2 de outubro de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen, na Vale TV.