Estação Hamburgo reúne empresários do Vale do Sinos para discutir os impactos das transformações sociais e tecnológicas na rotina das pessoas e dos negócios.
O programa Estação Hamburgo da Vale TV, exibido no dia 1º de outubro de 2025, trouxe à tona um debate sobre um tema que mexe com todos: como estamos vivendo, trabalhando e nos relacionando em um mundo que muda cada vez mais rápido. Com a mediação de Rodrigo Steffen, a bancada recebeu Carlos Eininger (Hub Gourmet), Dilamar Pauletti (Casa Di) e Ricardo Heurich (Construtora Concisa) — três nomes que representam setores diferentes, mas que compartilham o mesmo desafio: adaptar-se a uma sociedade em transformação sem perder a essência humana.
“O mundo mudou. E agora? Como seguimos vivendo bem, produzindo e convivendo?”, provocou Rodrigo logo na abertura do programa, apontando para a velocidade com que as transformações tecnológicas e comportamentais vêm redesenhando o cotidiano das pessoas e o modo como as cidades do Vale do Sinos se organizam.
Um mundo mais rápido e mais introspectivo
O apresentador abriu a conversa com uma reflexão sobre o ritmo da vida contemporânea. “Já mudou, e já mudou de novo”, observou, ao falar sobre a aceleração das transformações e o impacto da hiperconectividade na saúde emocional das pessoas.
O tema serviu de gancho para que os convidados comentassem como cada um, à sua maneira, tenta equilibrar produtividade e bem-estar. Ricardo Heurich, da Construtora Concisa, contou que a meditação diária há mais de dez anos é uma prática que o ajuda a manter o foco e a serenidade. Já Carlos Eininger, do Hub Gourmet, destacou que a gastronomia se tornou um espaço de contemplação: “cozinhar é um momento de desligar, de estar presente e de compartilhar com quem se ama”, afirmou.
O empresário Dilamar Pauletti, da Casa Di, por sua vez, lembrou o trabalho voluntário que desenvolve na Pastoral do Empreendedor da Catedral São Luís, em Novo Hamburgo, onde o grupo aborda temas como espiritualidade, propósito e saúde mental. “A pressão do WhatsApp, as notificações constantes e o excesso de estímulos nos afastam daquilo que é essencial. É preciso aprender a parar”, defendeu.
Casas, negócios e vidas em transformação
O debate do Estação Hamburgo evoluiu para os reflexos dessas mudanças no comportamento de consumo e nas relações sociais. Rodrigo Steffen observou que, após a pandemia, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa — e isso mudou completamente a forma de morar, trabalhar e se relacionar com o espaço doméstico.
Ricardo Heurich confirmou a tendência a partir da experiência na construção civil: “o nosso cliente continua sendo aquele casal no início da vida, mas hoje ele quer mais conforto, lazer e segurança dentro do próprio condomínio. Piscina aquecida, espaço pet e áreas de convivência são diferenciais que se tornaram essenciais”.
Para ele, essa adaptação tem uma razão demográfica: “o público da terceira idade está crescendo e quer continuar ativo. A pirâmide etária está invertendo, e isso muda tudo: o tipo de moradia, os serviços e até o jeito de pensar a cidade”.
A casa como espaço de experiência
No campo do design e dos móveis planejados, Dilamar Pauletti observou um fenômeno semelhante: “As pessoas estão mais exigentes. Passam mais tempo em casa e valorizam o conforto e o design funcional. Hoje, o consumidor não tolera um móvel mal pensado”. Segundo ele, o conceito de luxo está mudando — e o verdadeiro diferencial está na qualidade do tempo. “O luxo do futuro é o tempo. Cumprir o combinado e não desperdiçar o tempo de ninguém virou o novo símbolo de respeito”, sintetizou.
O empresário destacou ainda a importância da personalização e do design sob medida, que hoje são viáveis graças à tecnologia e à democratização da informação: “Aquilo que víamos nas revistas europeias há 20 anos agora está acessível aqui, em Novo Hamburgo. E o cliente busca exatamente isso: qualidade com simplicidade”.
A mesa como lugar de reconexão
Para Carlos Eininger, fundador da Hub Gourmet, a pandemia provocou um resgate de hábitos esquecidos. “Antes, a gente mal sentava para jantar. Hoje, lá em casa, o jantar é um momento sagrado, sem celular, só nós e o nosso filho”, contou. Ele defendeu a importância de experiências gastronômicas como forma de reconexão familiar e social: “Reunir-se em torno da mesa é um ato de amor. E se você não sabe cozinhar, a gente ensina”.
A Hub Gourmet vem acompanhando de perto o crescimento do interesse por cursos de culinária, tanto de quem busca profissionalização quanto de quem apenas quer cozinhar para amigos e familiares. “Mais de 70% dos nossos alunos são hobbyistas. Eles querem viver uma experiência prazerosa e aprender algo que melhore sua convivência”, explicou.
Além disso, o movimento dos personais chefs — profissionais que cozinham na casa do cliente — cresce na região, mostrando como o setor se adapta à nova lógica de valorização do tempo e das experiências.
A inteligência artificial e o futuro dos negócios
Um dos momentos mais instigantes do Estação Hamburgo foi quando o trio abordou o uso da inteligência artificial (IA) em seus setores.
Na gastronomia, Eininger contou que grandes redes como McDonald’s e Starbucks já utilizam IA para monitorar e corrigir, em tempo real, processos de preparo dos produtos. “Não substitui o profissional, mas aumenta a eficiência e a rentabilidade. No Brasil, 28% dos estabelecimentos gastronômicos já usam inteligência artificial de alguma forma”, revelou.
Na construção civil, Heurich apresentou a “Isa”, assistente virtual criada pela Concisa para atender clientes 24 horas por dia. “Ela convida pessoas para conhecer os decorados, responde dúvidas e, o mais curioso, é que ninguém percebe que está falando com uma IA. É tão humana que todos acham que é uma pessoa real”, contou. Segundo ele, a inteligência artificial é essencial para aumentar a produtividade e reduzir custos, garantindo competitividade em um mercado cada vez mais exigente.
A cidade em 15 minutos: o novo conceito urbano
Heurich também trouxe uma reflexão sobre o futuro das cidades — especialmente as do Vale do Sinos, onde a urbanização e a mobilidade são temas constantes. “As cidades de 15 minutos, como Paris, são o modelo ideal: tudo o que a pessoa precisa está a até 15 minutos de distância. Isso melhora a qualidade de vida e reduz o impacto ambiental”, afirmou.
Ele defendeu a verticalização como alternativa sustentável: “Fazer prédios de 10, 20 andares é necessário. Essa explosão horizontal não faz mais sentido. Precisamos morar perto do trabalho, das escolas e do lazer”.
Tradição e inovação lado a lado
A conversa seguiu leve, com histórias pessoais e lembranças afetivas. Dilamar Pauletti lembrou a receita de tortéi da mãe, que simboliza o reencontro com as origens e o valor da memória familiar. “Um prato pode ser um elo entre gerações”, disse.
Já Ricardo Heurich destacou que, apesar das mudanças tecnológicas, o essencial permanece o mesmo: “Hoje é melhor do que ontem, e o futuro será ainda melhor. As pessoas devem ser incentivadas a aproveitar as oportunidades e viver com qualidade”.
Os convidados concordaram que o desafio do presente é equilibrar inovação e humanidade — usar a tecnologia para melhorar a vida sem perder o contato humano, o olhar e a empatia. “Olho no olho ainda faz muita diferença”, concluiu Rodrigo.
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O tempo como bem mais precioso
Encerrando o Estação Hamburgo, o apresentador sintetizou o espírito da noite: “cuidar de si e das pessoas que amamos é o que nos faz viver bem. Cada um de nós, com suas experiências e visões, está construindo um futuro onde a felicidade seja acessível, simples e compartilhada”.
O público pôde perceber que, em um mundo em constante movimento, a verdadeira evolução talvez esteja justamente na capacidade de parar, respirar e reconectar-se com o que realmente importa — a convivência, o cuidado e o tempo bem vivido.
Debate realizado no dia 1º de outubro de 2025, no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.