Criada por Cláudia Sá em São Leopoldo, a Feira Bem Vestida que começou como hobby tornou-se referência no Rio Grande do Sul, reunindo milhares de visitantes, promovendo sustentabilidade e fortalecendo o empreendedorismo feminino.
O que nasceu como uma ideia experimental acabou se transformando em um dos maiores movimentos de moda circular do Rio Grande do Sul. A Feira Bem Vestida, criada pela empreendedora Cláudia Sá, realizou em maio de 2025 sua 23ª edição com números expressivos: mais de 3 mil visitantes, cerca de 8 mil peças vendidas, 95 expositores e quase 1,5 tonelada de alimentos arrecadados para o Banco de Alimentos de São Leopoldo.
Agora, o evento que começou em salões de sociedade leopoldenses prepara um passo ousado: ocupar a FENAC, em Novo Hamburgo, em 9 de maio de 2026, com expectativa de receber 5 mil pessoas e reunir 150 expositores de todo o país.
Uma decisão de vida: do emprego estável ao empreendedorismo
Natural de Novo Hamburgo, Cláudia construiu sua carreira em diferentes áreas – foi merendeira escolar, assistente comercial e gerente de e-commerce – até decidir, em 2019, pedir demissão do trabalho nos Correios e apostar integralmente no empreendedorismo.
“Eu estava fazendo 40 anos e pensei: o que quero da minha vida? Continuar onde estou ou fazer algo que me realize? Foi aí que resolvi mergulhar no meu projeto”, relembrou.
A escolha exigiu coragem e apoio familiar, mas consolidou sua trajetória como referência em consumo consciente e moda circular.
Quebrando preconceitos e criando comunidade
Cláudia explica que o brechó não é apenas um local de venda de roupas usadas, mas uma comunidade. Suas clientes ganharam até nome próprio: são chamadas de “feiretes”.
“Não gosto de falar clientes, elas são muito mais do que isso. Quem compra na Feira Bem Vestida faz parte de uma comunidade, de uma rede que compartilha valores de sustentabilidade, estilo e pertencimento”, disse.
Um dos desafios ainda é o preconceito. “Muita gente associa brechó a bazar bagunçado, com roupas empilhadas. Nós trabalhamos para mudar essa visão, com peças higienizadas em lavanderia parceira e curadoria cuidadosa. Quem compra já pode sair vestindo”, destacou.
Sustentabilidade e impacto social
A Feira Bem Vestida vai além do consumo consciente. Cada edição incorpora uma ação solidária, como a arrecadação de produtos de limpeza ou alimentos. Na última edição, quase 1,5 tonelada de alimentos foi destinada ao Banco de Alimentos.
A sustentabilidade também está no modelo de negócios: roupas de qualidade que já passaram pelo teste do tempo e continuam em perfeito estado são revendidas a preços acessíveis, até 80% mais baratos do que nas lojas. “É investimento financeiro e também ambiental, porque reduz o impacto da indústria da moda, uma das mais poluentes do mundo”, afirmou Cláudia.
Da feira local ao palco nacional
O crescimento foi rápido. O evento, que começou na Sociedade Orfeu de São Leopoldo, precisou migrar para espaços maiores. Em 2025, o ginásio municipal Celso Morbach, de São Leopoldo, já não comportava o público: filas davam voltas e os corredores ficaram apertados.
Para 2026, a mudança para a FENAC marca uma virada. “Sempre foi meu sonho. Eu passava em frente à FENAC e pensava: um dia estarei aqui. Agora vamos realizar”, comemorou Cláudia.
Rede de apoio e novos projetos
Além da feira, Cláudia comanda uma loja física em São Leopoldo e a Ecolab, laboratório de empreendedorismo feminino voltado à sustentabilidade. Também criou o movimento dos Sábados pela Manhã, em parceria com o espaço Vica Pozenato, oferecendo oportunidade para até 15 mulheres exporem seus produtos em formato rotativo.
A Feira Bem Vestida já conta com expositores de diferentes regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e até de Goiânia, sempre passando por curadoria criteriosa. “Não é só pagar a inscrição. Cada expositor precisa estar alinhado com os valores da feira, porque quem expõe leva junto o nome Bem Vestida”, explica.
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Moda circular como estilo de vida
Cláudia, que nunca foi consumidora de brechós até iniciar o projeto, hoje é apaixonada pelo segmento. “O brechó me escolheu. Hoje eu entendo que cada peça tem uma história e pode ganhar uma nova vida. Além de estilo, é uma forma de gerar impacto positivo para o planeta e para a comunidade”, declarou.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Conversa de Peso com Cláudia Sá no canal da Vale TV no YouTube.
Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen

