Debate no Estação Hamburgo reuniu histórias de vida marcantes, reflexões sobre a saúde mental e os desafios da inclusão no Vale do Sinos.
O programa Estação Hamburgo, exibido pela Vale TV em 27 de agosto, trouxe uma edição especial com foco em histórias de superação, inclusão e saúde mental. A bancada reuniu três convidados de peso: a psicóloga Adrissa Moura, integrante da assessoria de saúde mental da Prefeitura de São Leopoldo; o professor e vereador Cláudio Luciano Dusik, diagnosticado desde o nascimento com amiotrofia muscular espinhal (AME) e considerado o único adulto vivo com essa condição rara; e o jornalista Rogério Forcolen, apresentador do programa Rota da Notícia (RDN) na Vale TV.
O encontro aconteceu em uma semana simbólica: a Semana da Pessoa com Deficiência, que mobiliza debates e ações em escolas, instituições e órgãos públicos de todo o país.
A história de Cláudio Dusik: do “panóquio” ao doutorado
Entre os destaques da noite esteve a emocionante trajetória de Cláudio Dusik, que desde a infância convive com a AME, uma doença rara e progressiva que compromete a musculatura do corpo.
Desafiando prognósticos médicos que lhe davam expectativa de vida de apenas sete anos, Claudinho – como é carinhosamente chamado – hoje é professor doutor na PUC-RS e vereador em Esteio.
Autor do livro “Panóquio: uma história de vida com a AME”, ele contou que o título nasceu da metáfora usada pela medicina nos anos 1980, quando crianças com a doença eram comparadas a “bonecos de pano”, sem perspectiva de movimento ou fala. Inspirado pelo personagem Pinóquio, que sonhava em se tornar um menino de verdade, Claudinho transformou a dor em motivação para estudar e conquistar autonomia intelectual.
“Minha mãe nunca me escondeu. Pelo contrário, sempre me levou à pracinha, me colocou na escola e enfrentou o preconceito da época. Isso foi determinante para que eu me tornasse quem sou”, lembrou.
Inclusão escolar: uma luta de décadas
Cláudio relembrou a dificuldade de conseguir matrícula escolar na década de 1980. Após negativas em colégios municipais, estaduais e particulares, foi uma escola confessional que, mediante insistência de sua mãe, aceitou matriculá-lo.
O resultado surpreendeu: com apenas 4 anos, ele já estava alfabetizado, superando expectativas. Mais tarde, enfrentou desafios semelhantes no ensino superior, mas persistiu até conquistar graduação, mestrado e doutorado.
Sua trajetória mostra o quanto a inclusão escolar ainda é um obstáculo, mas também um campo de conquistas importantes para pessoas com deficiência e suas famílias.
O impacto da pandemia e da enchente na saúde mental
A psicóloga Adrissa Moura trouxe ao debate o olhar clínico e social sobre saúde mental no Vale do Sinos. Ela destacou que a pandemia de Covid-19 acelerou a aceitação das terapias online, ampliando o acesso a pessoas que antes desistiam de tratamento por dificuldades de deslocamento ou resistência ao consultório.
Já sobre a recente enchente que devastou São Leopoldo, Adrissa alertou para os efeitos de longo prazo:
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aumento da violência escolar e familiar;
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altos índices de ansiedade e estresse pós-traumático;
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sintomas que aparecem meses depois, como medo de sair de casa em dias de chuva.
“As pessoas precisam dar nome à dor. Muitas vezes, a ansiedade e a depressão de hoje estão diretamente ligadas à experiência traumática das enchentes”, explicou.
Ela também chamou atenção para os cuidadores, especialmente mães de filhos com deficiência, que frequentemente enfrentam abandono conjugal, sobrecarga e esgotamento. “Cuidar de quem cuida” foi um dos lemas defendidos durante a entrevista.
Rogério Forcolen: burnout e lições pessoais
O jornalista Rogério Forcolen, hoje apresentador do Rota da Notícia na Vale TV, compartilhou sua própria experiência com síndrome do pânico, vivida no Rio de Janeiro durante sua passagem por grandes emissoras.
Ele relatou como a cobrança por resultados, a busca incessante por números de audiência e a perda de controle em situações cotidianas o levaram ao esgotamento. O tratamento psiquiátrico e psicológico foi decisivo para sua recuperação.
“Entendi que estava doente quando, preso em um engarrafamento, tive vontade de pular pela janela do carro. Não era normal. Precisei aceitar ajuda e me tratar”, contou.
Desafios no mercado de trabalho para pessoas com deficiência
O professor Cláudio Dusik também discutiu os entraves na inserção profissional de pessoas com deficiência.
Embora a lei de cotas obrigue empresas a contratar, muitas preferem pagar multas a investir em adaptação e inclusão. Além disso, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) ainda gera dilemas, já que trabalhadores temem perder a renda mínima ao ingressar no mercado.
Segundo ele, avanços recentes permitem que o benefício seja mantido parcialmente mesmo durante o trabalho, mas a desinformação ainda afasta muitos da vida profissional.
O papel das mães: resistência e esperança
Um dos pontos centrais do debate foi a força das mães. Tanto Adrissa, em sua experiência clínica, quanto Cláudio, em seu relato pessoal, destacaram a coragem materna como motor de transformação.
Seja enfrentando preconceitos nos anos 1980 ou lutando por atendimento especializado após a enchente de 2024, as mulheres seguem sendo protagonistas na defesa de direitos, inclusão e dignidade para seus filhos.
Um chamado à comunidade do Vale do Sinos
O programa encerrou com um apelo coletivo: é preciso engajamento social para transformar a realidade de pessoas com deficiência e enfrentar os desafios da saúde mental.
Como lembrou Cláudio Dusik:
“Não basta haver leis. É necessário que a sociedade se envolva de verdade, da escola aos espaços públicos, para garantir respeito às diferenças”.
A noite no Estação Hamburgo foi marcada por emoção, aprendizados e pelo reconhecimento de que histórias de vida individuais podem inspirar transformações coletivas na região.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Estação Hamburgo no canal da Vale TV no YouTube:
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Debate realizado no dia 27 de agosto de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.