Professora hamburguense Vera Hoffmann relembra trajetória, fala sobre projetos premiados e reforça a importância da oralidade e da leitura para crianças e adultos.
O programa Conversa de Peso, apresentado por Rodrigo Steffen, recebeu na noite de sexta-feira (22) a professora, escritora e contadora de histórias Vera Maria Hoffmann. Natural de Novo Hamburgo e radicada em São Leopoldo desde 2021, Vera compartilhou momentos de sua trajetória, desde a infância marcada pela oralidade familiar até os reconhecimentos nacionais conquistados em sua carreira. Entre risos, memórias e causos de assombração, a convidada destacou a literatura como ferramenta de encantamento e transformação social.
Infância entre rodas de histórias e simplicidade
Filha de seu Nelson e dona Erna, Vera cresceu em Novo Hamburgo ouvindo as narrativas do avô, que lia livros e, ao mesmo tempo, criava histórias para toda a família. Essas experiências despertaram cedo seu desejo pela leitura. Embora tenha seguido inicialmente o caminho da contabilidade, obedecendo ao conselho do pai, descobriu aos 40 anos sua verdadeira vocação: a de professora e contadora de histórias.
“Eu sempre gostei de contar histórias. No início eram para vizinhos e crianças da família. Depois, já professora, passei a reservar sempre o final das aulas para esse momento mágico com os alunos”, recordou.
Da sala de aula à biblioteca
Em 2007, ao começar a atuar em bibliotecas, Vera Hoffmann deu início a uma trajetória intensa de projetos. Entre eles, o Sacola Ambulante de Leitura, que circulava pela comunidade levando livros e promovendo rodas de histórias, e o premiado Nas Asas da Imaginação, que encantou crianças, jovens e adultos.
Com uma combinação de timidez superada pelo amor à narrativa e criatividade na caracterização de personagens, como o Cata Pimba, Vera conquistou espaço em feiras e eventos literários, incluindo Canoas, Porto Alegre e Ponta Grossa.
Reconhecimento e prêmios nacionais
A dedicação rendeu homenagens importantes, como o Prêmio Paulo Freire e Mestre Cidadão e o Prêmio Baobá, considerado o “Oscar dos Contadores de Histórias” no Brasil — recebido em grupo em 2022 e individualmente em 2023.
Durante as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, Vera levou sua arte a abrigos, oferecendo acolhimento e esperança por meio das histórias. “Contar é um gesto de amor. Mesmo em momentos difíceis, a narrativa cria laços e fortalece quem ouve”, destacou.
A literatura como missão
Em 2017, sua participação no Feconte BC, em Balneário Camboriú, marcou um divisor de águas. Lá, teve a oportunidade de conviver com mestres como Francisco Gregorio, referência nacional na área, e foi convidada a contar uma história em uma roda especial. A experiência consolidou sua carreira como contadora de histórias profissional.
Nos anos seguintes, ampliou sua produção escrita. Publicou contos em antologias, lançou livros autorais e passou a ocupar a cadeira 26 da Academia Brasileira de Contadores de Histórias, representando o Rio Grande do Sul ao lado de outros nomes de destaque.
Histórias que não têm idade
Para Vera Hoffmann, histórias não pertencem apenas ao universo infantil. “História não tem idade. As crianças amam, mas os adultos também se encantam. Os Irmãos Grimm, por exemplo, escreviam contos muito mais fortes do que as versões suaves que conhecemos hoje”, observou.
Ela destacou ainda o poder das histórias de assombração, sempre muito pedidas em suas apresentações. “As crianças ficam vidradas. Às vezes não dormem depois, mas pedem para ouvir de novo”, contou entre risos.
Entre o oral e o escrito
Embora tenha iniciado como contadora, Vera também encontrou espaço na escrita. Seu primeiro livro surgiu a partir de um projeto de educação ambiental publicado na Alemanha. Depois, vieram contos em antologias e livros autorais lançados em feiras literárias do Rio Grande do Sul.
“Um bom contador de histórias não precisa ser escritor, mas pode se tornar. Eu nunca pensei em escrever, mas os alunos pediam. E quando vi, já estava publicando”, relatou.
Uma vida dedicada à palavra
Hoje, aos 65 anos, Vera Hoffmann segue atuando como mediadora de leitura, escritora e palestrante. Defende que a contação de histórias forma leitores mais criativos e curiosos, além de aproximar gerações. “Quem ouve histórias será um leitor melhor. A oralidade desperta o desejo de conhecer o livro”, afirma.
Ao final da entrevista, prometeu voltar ao programa para uma sessão especial de contos de terror e revelou o desejo de lançar um livro em homenagem ao avô, com histórias ligadas à Lagoa dos Barros. “Sonho em fazer esse lançamento ao pé da figueira onde tudo começou”, disse emocionada.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Conversa de Peso com Vera Hoffmann no YouTube:
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.