Em entrevista ao Conversa de Peso, cardiologista hamburguense Dr. Benini falou sobre sua trajetória, avanços da medicina e os desafios para a saúde cardiovascular.
O médico cardiologista Luiz Fernando Benini, uma das referências na área da saúde no Vale do Sinos, foi o convidado do programa Conversa de Peso, apresentado por Rodrigo Steffen, na Vale TV. Ao longo da entrevista, ele compartilhou reflexões sobre sua trajetória profissional, os avanços da medicina no tratamento de doenças cardiovasculares e a importância de hábitos saudáveis para a prevenção de infartos e AVCs.
Do consultório às caminhadas pelas ruas de Novo Hamburgo
Reconhecido por seus pacientes como “Benini” ou “Dr. Benini”, o cardiologista destacou a necessidade de dar exemplo no dia a dia. Habitualmente visto caminhando pelas ruas de Novo Hamburgo, ele contou que mantém a rotina de esportes, como o squash em Porto Alegre, para reforçar aos pacientes a importância da prática regular de atividades físicas.
Segundo ele, o papel do médico vai além da ciência: “É um terço ciência, um terço puxão de orelha e um terço psicologia. O paciente precisa ser ouvido, orientado e, ao mesmo tempo, cobrado a seguir o tratamento”, resumiu.
Uma vida dedicada à cardiologia
Com mais de quatro décadas de atuação, Dr. Benini relembrou sua participação nos primórdios da Unimed em Novo Hamburgo, onde ingressou ainda entre os primeiros 20 médicos cooperados. Após 42 anos, decidiu se desligar da cooperativa para reduzir o ritmo de trabalho, mas continua atendendo seus antigos pacientes de forma particular.
Ele revelou números impressionantes: ao lado do sócio, Dr. Ricardo Beuren, já realizou mais de 400 mil testes de esforço ao longo da carreira — sem registro de óbito em exames —, um marco raro na cardiologia. “Quando conto isso em congressos, os colegas pedem provas, mas é verdade. Temos este histórico, fruto de muito trabalho, cuidado com o paciente e estrutura adequada”, afirmou.
Infartos, AVCs e novas descobertas médicas
Durante a entrevista, Dr. Benini alertou para o aumento de casos de AVCs em pessoas jovens, classificados como criptogênicos — quando a causa não é imediatamente identificada. Ele explicou que, em muitos desses casos, a origem está em arritmias cardíacas ou em uma condição chamada Forame Oval Patente (FOP), um pequeno orifício que permanece no coração desde o nascimento.
Hoje, exames como a ecocardiografia transesofágica permitem identificar o problema e, quando indicado, o fechamento pode ser feito por cateterismo. “Não se fecha em todo mundo, mas em casos após um primeiro AVC, sim. É um grande avanço”, destacou.
O inimigo silencioso: açúcar e carboidratos
Questionado sobre os hábitos alimentares mais prejudiciais ao coração, Benini foi enfático: “O maior vilão hoje não é mais a gordura, mas os carboidratos”. Para ele, o consumo excessivo de açúcar e alimentos ultraprocessados está diretamente relacionado ao crescimento do pré-diabetes, que tende a superar a hipertensão e a obesidade como problema de saúde pública.
Ele criticou modismos, como o uso indiscriminado de medicamentos para emagrecimento, e alertou que drogas como o tirzepatida (Mounjaro), recentemente aprovadas no Brasil, podem trazer resultados expressivos, mas precisam estar acompanhadas de acompanhamento médico, prática de exercícios e acompanhamento nutricional. “Não existe milagre. A medicação ajuda, mas o paciente precisa colaborar”, ressaltou.
Avanços no tratamento da saúde do coração
Dr. Benini destacou a evolução da medicina nos últimos 30 anos. Se antes os médicos tinham poucas opções para tratar hipertensão, colesterol e arritmias, hoje existem centenas de medicamentos disponíveis, com maior eficácia e acessibilidade.
Ele citou o surgimento de drogas inovadoras como os inibidores de SGLT2, usados inicialmente no controle da diabetes e hoje aplicados em cardiologia para melhorar a sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca. Além disso, mencionou o lançamento recente no Brasil do ácido bempedóico, indicado para pacientes com intolerância às estatinas no combate ao colesterol elevado.
“Antes, perdíamos pacientes muito cedo. Hoje, conseguimos oferecer qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida de forma significativa. Mas tudo isso só funciona se houver adesão ao tratamento e mudança de hábitos”, explicou.
Prevenção é a chave
Ainda em relação aos cuidados com a saúde, Dr. Benini reforçou que, apesar dos avanços tecnológicos, a prevenção continua sendo o melhor tratamento. Controlar a pressão arterial, reduzir o consumo de carboidratos, manter uma rotina de atividades físicas e fazer acompanhamento médico regular são atitudes indispensáveis.
“O gaúcho gosta de carne gorda, mas o problema maior está no açúcar e na farinha. O desafio é cultural. Precisamos aprender a equilibrar a alimentação e não negligenciar sinais do corpo”, afirmou.
Um coração que também toca música
Ao final da entrevista, o médico revelou uma faceta mais leve de sua vida: a paixão pela música. Tocando Beatles no violão, prometeu voltar ao programa acompanhado de amigos para transformar a consulta pública em um momento de descontração cultural.
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.