Debate em Novo Hamburgo reúne lideranças femininas para discutir Agosto Lilás, violência contra a mulher, direitos das pessoas com deficiência e fortalecimento das políticas públicas.
Em Novo Hamburgo, um painel promovido pelo programa Estação Hamburgo reuniu representantes de diferentes áreas para debater a campanha Agosto Lilás, que alerta para o enfrentamento da violência contra a mulher. O encontro também abordou políticas públicas de inclusão de pessoas com deficiência, desafios culturais e a importância de redes comunitárias de apoio.
A urgência do enfrentamento à violência contra as mulheres
O mês de agosto tem se consolidado como um período de mobilização nacional contra a violência de gênero. Conhecida como Agosto Lilás, a campanha reforça a necessidade de enfrentar um cenário preocupante: no Brasil, em média, 10 mulheres são assassinadas por dia, conforme dados recentes apresentados no debate. A diretora de Políticas Públicas para as Mulheres de Novo Hamburgo, Elanice Müller, destacou que a luta precisa ser constante e não restrita a um único mês.
Ela relembrou que a Lei Maria da Penha completou 19 anos no último 7 de agosto e que, apesar dos avanços, os números seguem alarmantes. Somente no primeiro semestre de 2025, o Rio Grande do Sul registrou mais de 24 mil ocorrências de ameaças e agressões ligadas a casos de feminicídio — um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Temos a responsabilidade social e humana de não silenciar diante da violência. Precisamos falar todos os dias sobre isso, para que as mulheres conheçam seus direitos e encontrem uma rede de apoio segura”, afirmou Elanice.
Vozes femininas que inspiram
Entre as convidadas esteve a gerente de RH Graziela Santos, que atua no setor privado promovendo campanhas de conscientização. Ela relatou experiências de como pequenas atitudes no ambiente de trabalho podem salvar vidas, ao perceber sinais de violência vivida por colegas ou funcionárias.
Já a diretora de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência de Novo Hamburgo, Josiane Nobre, trouxe ao debate uma perspectiva sensível: muitas mulheres com deficiência sofrem não apenas com limitações físicas, mas também com dependência econômica e emocional, o que as torna ainda mais vulneráveis à violência. Casos de negligência e abuso psicológico em famílias foram destacados como situações que exigem respostas rápidas e articuladas do poder público.
A empresária Dori Scheeffer, referência no empreendedorismo da região e integrante ativa de iniciativas sociais, destacou que o “Agosto Lilás deve ser um chamado permanente à reflexão e à ação”, lembrando que a violência de gênero não escolhe classe social ou localidade. Dori ressaltou ainda que as mulheres precisam fortalecer-se mutuamente, criando redes de apoio que ultrapassem o espaço público e cheguem às famílias, vizinhanças e ambientes de trabalho. “O silêncio é cúmplice da violência. Precisamos dar voz às mulheres, acolhê-las e mostrar que não estão sozinhas”, afirmou.
“É fundamental fortalecer redes de apoio que não apenas acolham, mas garantam que essas mulheres possam viver com dignidade e proteção”, ressaltou Josiane.
Políticas públicas e rede de apoio
O encontro lembrou que municípios da região já avançaram na estruturação de políticas específicas. Em São Leopoldo, a criação da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres é vista como um marco e uma referência para outros municípios. Em Novo Hamburgo, além da Patrulha Maria da Penha e de ações de conscientização, está prevista a construção de uma casa de acolhimento para mulheres vítimas de violência, medida considerada urgente pelas participantes.
Outro ponto de destaque foi a atuação da Brigada Militar e da Guarda Municipal, por meio de patrulhas especializadas, além da necessidade de ampliar a articulação entre os diferentes órgãos públicos, como Ministério Público, Judiciário e centros de referência de assistência social.
Inclusão social e desafios no mercado de trabalho
O debate também abordou a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Apesar da obrigatoriedade legal de contratação em empresas com mais de 100 funcionários, muitas organizações ainda optam por pagar multas em vez de se adaptar.
Foram citados exemplos de discriminação e bullying que levam trabalhadores com deficiência a abandonar o emprego, revelando que a inclusão precisa ir além da contratação formal: é necessário criar ambientes acolhedores e acessíveis.
Segundo Josiane Nobre, além da questão estrutural, há o desafio de capacitar as pessoas com deficiência e ampliar o diálogo com empresas e famílias. Iniciativas como feiras de emprego específicas e parcerias com entidades sociais têm buscado diminuir essa distância.
Cultura, família e fortalecimento comunitário
As falas das convidadas ressaltaram ainda que o combate à violência e a promoção da inclusão passam pela cultura e pelo fortalecimento das famílias. O exemplo de iniciativas em CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) foi lembrado como espaço de transmissão de valores de respeito, convivência intergeracional e proteção comunitária.
“Quando há pertencimento, quando existe uma rede que valoriza a vida em comunidade, os índices de violência caem”, destacou Dori.
Setembro Amarelo e a saúde mental
Ao final do programa, também foi feita uma conexão com o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio. Os dados crescentes de adoecimento mental entre adolescentes e jovens reforçam a urgência de ampliar políticas de saúde emocional, tanto nas escolas quanto nas empresas.
As participantes foram unânimes em destacar que a violência, em suas múltiplas formas, está ligada a questões emocionais não tratadas, e que investir em saúde mental não é custo, mas garantia de produtividade e de qualidade de vida.
Mobilização permanente
O debate no Estação Hamburgo reforçou que violência contra mulheres, discriminação contra pessoas com deficiência e negligência com idosos não são problemas isolados, mas expressões de uma mesma crise social que exige atenção contínua.
“Precisamos de coragem para denunciar e de empatia para acolher. Uma sociedade mais justa só será possível quando todos entenderem que cada vida importa e deve ser protegida”, sintetizou Elanice Müller.
Clique na imagem abaixo para assistir ao Estação Hamburgo no canal da Vale TV no YouTube:
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Debate realizado no dia 18 de agosto de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.
