Profissional referência em saúde infantil, Maria Inês Cardiga fala sobre sua vocação, conquistas da pediatria e os desafios da rede pública no cuidado às crianças do Vale do Sinos
A pediatra Maria Inês Cardiga, referência na Fundação de Saúde de Novo Hamburgo, foi a convidada do programa Conversa de Peso, da Vale TV, no dia 13 de agosto de 2025.
Natural de Novo Hamburgo, formada pela Universidade Federal do Rio Grande e especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria, ela compartilhou sua trajetória, escolhas profissionais e a visão sobre os avanços e desafios da saúde infantil na região. Em um bate-papo marcado pela simplicidade e clareza, destacou a importância da prevenção, da vacinação e da rede de proteção à infância.
Vocação desde a infância
A decisão de ser médica surgiu cedo: aos seis anos de idade, Maria Inês já dizia à mãe que seguiria esse caminho. Sem familiares na área, construiu sua trajetória pela convicção de que queria “cuidar de gente”, especialmente na fase mais vulnerável da vida: a infância. “Na pediatria temos a chance de impactar diretamente o futuro de uma pessoa. É no começo que podemos fazer muita diferença”, afirmou.
Ainda na faculdade, chegou a cogitar a psiquiatria, mas foi na pediatria que encontrou a possibilidade de unir conhecimento técnico e impacto preventivo. Hoje, após décadas de atuação, enxerga sua escolha como um acerto: “Meu papel é oferecer menos pacientes para os psiquiatras, cuidando bem desde cedo”.
A pediatria como cuidado integral
Para Maria Inês, ser pediatra significa olhar para a criança e também para sua família. “O meu compromisso é com o paciente, mas não posso ignorar a realidade dos pais. É uma arte conciliar os interesses da criança com quem a cuida”, explicou.
Com experiência tanto no consultório quanto no serviço público, ela defende uma postura de proximidade, firmeza e respeito. “A criança não dissimula. Ela está inteira diante de nós. Isso exige sensibilidade e responsabilidade”, destacou.
Avanços na saúde infantil
A médica lembrou que, há poucas décadas, Novo Hamburgo e o Brasil conviviam com índices elevados de mortalidade infantil. Hoje, graças a políticas de vacinação, saneamento e organização dos serviços de saúde, a realidade é outra. “Eu vi casos de difteria, sarampo e óbitos por varicela. Se tivesse apenas um real para investir em saúde, eu aplicaria em vacinas”, defendeu.
Apesar do avanço, ela alerta para retrocessos recentes, com a queda nas taxas de imunização, resultado de desinformação e discursos contrários à ciência. “Infelizmente, especialistas de última hora acabaram minando a confiança em um sistema que sempre funcionou”, lamentou.
A rede de proteção em Novo Hamburgo
Um dos orgulhos da pediatra é a existência, no município, de um ambulatório de egressos de UTI neonatal, criado em 1993 e que hoje funciona como referência regional. “Não faz sentido um bebê passar meses internado, superar todas as dificuldades, e depois ser entregue a uma rede despreparada. É fundamental garantir transição e acompanhamento”, explicou.
Maria Inês destacou ainda o trabalho da equipe Amigos do Bebê, responsável por monitorar crianças em situação de maior vulnerabilidade. “Esses pacientes estão mapeados e acompanhados. Quando não comparecem às consultas, há buscativa e até notificação ao Conselho Tutelar. É um cuidado essencial para prevenir problemas futuros”, disse.
Desafios persistentes
Apesar das conquistas, a médica reconhece que a rede pública ainda enfrenta gargalos. Um deles é a procura desnecessária por pronto-atendimentos em situações que poderiam ser resolvidas na atenção básica. Para ela, a solução passa pela educação em saúde, iniciada desde a escola: “Precisamos ensinar desde cedo como se cuidar e quando procurar cada serviço”.
Ela também critica a agressividade contra profissionais de saúde em momentos de crise. “Erro pode acontecer, mas ser o médico errado não. A maioria dos profissionais atua com vocação e responsabilidade. O ataque violento ao médico ou à equipe só prejudica o sistema”, afirmou, citando ensinamentos do médico Gilvan Fontoura, figura marcante na história da cidade.
Maria Inês Cardiga e o legado da simplicidade
Sem filhos biológicos, Maria Inês diz ter encontrado na pediatria uma forma de construir laços afetivos duradouros. Muitos de seus ex-pacientes hoje são médicos, engenheiros e profissionais de diversas áreas. “Esse é o maior pagamento: ver a criança crescer, se tornar adulta e lembrar do cuidado recebido”, afirmou.
Para ela, a vida é feita de escolhas simples, mas cheias de significado. “Eu gosto de dizer que levo uma vida normalzinha, mas com muito amor pelo que faço. A pediatria me deu a chance de transformar simplicidade em potência de cuidado.”
Clique na imagem abaixo para assistir o Conversa de Peso com Maria Inês Cardiga, no canal da Vale TV no YouTube:
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen