Sim, a pauta é polêmica; sim, a tecnologia não pode ser escondida em nossos tempos e precisamos aprender com ela; sim, o diálogo sempre é o melhor caminho; sim, o uso pedagógico do celular pode ser benéfico… sim, sei disso tudo, porém, todavia, entretanto, me posiciono de maneira conservadora quando a pauta é a presença do telefone celular em sala de aula: não é bem-vindo, penso eu!
Pois, bem, mesmo com todas as considerações anteriormente escritas, o que me faz ser contrário a essa presença talvez inofensiva em uma sala de aula? Justamente o fato dessa presença não ser inofensiva, muito antes pelo contrário.
A tecnologia é muito bem-vinda em nossos dias atuais, não resta dúvida. Seria um imbecil se discordasse disso. Porém, a tecnologia por si só não tem presença livre em qualquer ambiente. Será que você gostaria de ser operado por um médico que estivesse acessando o celular, durante a cirurgia, lendo notícias ou interagindo no whatsapp? É permitido dirigir usando o celular? Os jogadores de futebol ou de voleibol ou tênis podem disputar suas partidas usando o celular? O não é a resposta óbvia para todas as perguntas. E não quer dizer com isso que médicos, motoristas ou atletas sejam contra a tecnologia, apenas devem haver regras para o devido uso. Porque o estudante não pode se sujeitar a regras assim?
Claro que o diálogo sempre é recomendado para a tomada de decisões, mas o ser humano precisa de normas e regras, não à toa, o Direto Romano perpassa séculos de sua história, ordenando a convivência entre seres humanos. A matéria é controversa, dependendo dos diferentes modos de educação de pais para filho, sendo necessária essa convivência em sala de aula. Mais complexo o diálogo, sendo imperiosa uma legislação para nortear essas relações, ainda mais por ser uma pauta nova em nossas vidas.
Por fim, o uso pedagógico sempre pode ser uma corrente positiva, com a presença do celular em sala de aula. Porém, lidamos com jovens, quando a dispersão e descontração é uma constante. E se, entre adultos, essa mesma desconcentração tem sido causadora de divórcios, de brigas, de afastamentos, sem um controle racional do uso do celular, como querer que professores consigam focar exclusivamente na pauta pedagógica, num ambiente tão diverso e dispersivo? Impossível.
Enfim, mas porque, afinal a sala de aula não seria esse ambiente receptivo ao telefone celular? Porque ali vive-se um ambiente de aprendizado, um ambiente de convivência, um ambiente onde se planta aquilo que colheremos no futuro. Não é um ambiente de lazer, um ambiente de relaxamento, pois é necessário foco, concentração, atenção.
Os conteúdos ministrados em sala de aula nos ensinam a ler, a escrever, a pensar, a debater, a calcular, a raciocinar. E além disso, a convivência, o respeito, a troca de ideias. E tudo isso, não terminando em si mesmo, mas se transferindo para o futuro, em ambientes profissionais, onde não teremos tempo de aprender sobre essas regras básicas, pois aí, as pautas profissionais entram em cena. E para compreendê-las, mister se faz saber se concentrar, saber raciocinar, saber interagir. E o celular é um inimigo desses aprendizados, não tenho dúvidas disso.
Ainda ouço, aqui ou acolá, que isso poderá gerar frustração em algumas crianças. Ótimo, penso eu, afinal cada vez menos é oferecido o direito de frustração para os mais jovens, sendo que a vida adulta é formada muito mais de desencantos, do que de vitórias. Então, seja bem-vinda, amarga frustração. Que ela ocupe o lugar da ansiedade, que cada vez mais toma a vida e a mente de adultos e sobretudo de jovens, por estar sempre conectados, não ouvindo, não falando e consumindo mais e mais, sem extrair nada, ou muito pouco desse consumo.
Por tudo isso, reitero, sala de aula não é lugar de telefone celular. Ahhhh, uma última frase: sem celular para alunos e também sem celular para professores. Obviamente.