No mês de julho tive a oportunidade de rodar por seis estados brasileiros, nas minhas férias, partindo do Rio Grande do Sul até chegar em Goiás. Uma de minhas paixões é dirigir e na companhia da parceira Adriane, que também curte uma boa estrada, atravessei Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, até chegar no destino, Caldas Novas, em um total rodado de aproximadamente 4.100 quilômetros, em ida e volta.
Impossível não observar a postura dos motoristas ao longo de tanto rodar e por isso sou obrigado a provocar: gaúchos, dirigir na defensiva não precisa ser motivo de vergonha. De longe, paulistas e paranaenses me transmitiram ser os mais serenos ao volante, tanto em rodovias como nas cidades (Curitiba, Limeira, Ribeirão Preta, entre outras) com a gentileza sobrepondo-se a agressividade.
Fiz uma manobra indevida na capital paranaense, por exemplo e em meio a diversos carros não ouvi uma buzina, um xingamento. Em SP e PR, observo motoristas que não param em cruzamentos, inviabilizando a circulação ou que permitem a passagem, quando alguém pede espaço e liga o famoso pisca pisca. A pista da esquerda, via de regra fica para quem flui em maior velocidade e quando se faz sinal de ultrapassagem, o lado é concedido.
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Sobre mineiros e goianos, poucas observações, apenas registrando não ter vivido nenhuma situação desagradável, em que pese ter rodados trechos menores.
Todavia, é triste falar de gaúchos e catarinenses: os piores, em larga escala, sob todos os aspectos, da intolerância a pressa, da grosseria a irresponsabilidade. Calma, jamais generalizaria e portanto não se ofenda se não lhe servir esse chapéu (seja honesto nesta auto avaliação, por favor…). Nem todos os motoristas paulistas e paranaenses são corretos: destaco a maioria. Assim, como nem todos os gaúchos e catarinenses são grosseiros, mas a maioria…
A sensação que tenha, quando faço comparações é que o gaúcho tem a sensação de estar em cima de um cavalo, ao assumir o volante de seu automóvel, sendo necessário domar o animal a cada quilômetro rodado. Dar espaço para uma ultrapassagem ? Bem capaz. Eu estou na velocidade que quero e você tem que esperar; ligar um sinal de pisca pisca soa como uma gentileza fora dos padrões do xucro; avançar um sinal verde e trancar toda a fluidez do trânsito não é problema meu: se vire você e espere.
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A ideia de uma direção defensiva parece envergonhar e contar com o erro do outro motorista uma bobagem desprezível, afinal não sou apenas um motorista, sou um piloto, um domador de cavalo e de máquinas. Buzinar então, passa a ser uma necessidade e me perdoem as mulheres, nesse aspectos elas conseguiram assumir um péssimo hábito masculino, exercendo-o com mais frequência. Entre a gauchada, quase podemos sentirmo-nos na Índia, país típico de buzinas nas ruas e rodovias, onde já estive e ressalto: lá, o sinal sonoro é rápido e serve como alerta, pela miscelânia de carros, motos.
Aqui, não basta buzinar. Após o longo som irritante, via de regra surge um gesto com a mão, um olhar de reprovação e, em casos extremos, palavras ofensivas. É o kit completo da deselegância, que quando oferecido a outro, digamos, não elegante, pode derivar em perseguições, brigas e sim, pasmem, morte.
Amigo gaúcho, amiga gaúcha, não tenha vergonha de adotar a direção defensiva, de ser cortes, de ser paciente. Espere, ceda a vez, desconsidere a ignorância e pense nas pessoas que você ama, nas pessoas que amam você e seja empático com os outros motoristas.
Direção defensiva, não pode ser motivo de vergonha. Andamos em automóveis, não em cavalos.
*Por Rodrigo Giacomet.
