Publicação marca importância da pesquisa e lugar de fala da comunidade negra na região do Vale do Rio dos Sinos
Com direito à sessão de autógrafos e falas emocionadas, a noite do último dia 20 foi marcada pelo lançamento do livro Memória Negra, da professora e pesquisadora Margarete Fagundes Nunes, na Sociedade Cruzeiro do Sul.
Desde pequena, Margarete questionava o protagonismo do alemão no Vale do Rio dos Sinos, um lugar que sempre percebeu como muito diverso. “Na verdade, eu era bem jovenzinha quando eu comecei a querer estudar a questão étnico-racial no Vale do Rio dos Sinos porque eu cheguei aqui na região com dez anos, estudava em escola pública e os meus professores faziam chamada por sobrenome e era aquele monte de sobrenome alemão e eu ficava com vergonha, já não tinha aquele sobrenome que nem os outros”, contou ela. Essa curiosidade infantil se viu refletida no primeiro Trabalho de Conclusão de Curso, O branco africanizado, que estudava os brancos que frequentavam as casas de nação africana. A partir deste, vieram muitas outras pesquisas que viabilizaram a montagem do livro.
A professora Margarete é graduada em Ciências Sociais pela Unisinos, Mestra e Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina e atualmente, atua como pesquisadora associada do Banco de Imagens e Efeitos Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O livro Memória Negra, primeiro volume da Trilogia Antropológica do Vale do Rio dos Sinos, apresenta resultados de pesquisas etnográficas realizadas junto às comunidades negras do Vale, especialmente de Novo Hamburgo e São Leopoldo.
A cidade é apresentada por meio das experiências vividas e narradas por seus moradores, alguns deles descendentes dos habitantes do antigo bairro África, território que alimenta o mito fundacional do associativismo negro do Vale do Rio dos Sinos. A autora contextualiza o cenário local citadino, em que se materializam algumas ações de políticas afirmativas sem perder de vista as perspectivas nacional e global para a compreensão das discursividades étnicas no Brasil contemporâneo.
Na arte da capa, alguns personagens da vida urbana de Novo Hamburgo são representados pela artista plástica Raquel da Silva: o Carlão, a Vó Nair, o Seu Ademir e o Seu Álvaro Pacheco. Este último, avô de Raquel, um dos fundadores da Sociedade Cruzeiro do Sul.
Foto: Divulgação/PMNH