Essa crônica começa com um pedido de desculpas. Um sincero pedido de perdão. Que carrega um sentimento de muita dor e de perda. E esse pedido vai a alguém que, infelizmente e terrivelmente, não está mais aqui conosco: o jovem menino hamburguense Fernando Lopes.
Aos 9 anos, quase aos 10, que seriam completados em poucos dias, este pequeno menino foi morto. Em segundos, uma briga de criminosos, com qual Fernando sequer sabia o que era, ceifou com a sua vida. A hora, milimetricamente, contada em segundos.
No centro da sala que recebe três cultos semanais da Igreja Pentecostal Água Viva, no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, o pedido de perdão se transformou em despedida. O silêncio, a força de “não haver palavras para definir o momento”, tomou conta.
Talvez a não realidade tomasse conta, também: sentados, o pai dele, Edison de Souza Lopes, e a mãe, Eliana Batista dos Santos, se debruçavam, em silêncio, sobre o caixão do menino. A imagem daquele pai, daquela mãe, sob o caixão daquele menino, que deveria estar dentro da sala de aula naquela hora, era inconfundível: na “dor da dor”, ele parecia dormir na eternidade.
Do lado daquele caixão, uma bola de futebol. Ali, naquele momento, Fernando também se despedia de seus sonhos. Em um vagão da imensidão. Para jogar futebol numa quadra, foi criada uma vaquinha entre amigos para comprar uma simples bola. E ela lá estava, posicionada ao lado do caixão, para ser sepultada junto de Fernando e seu sonho de ser jogador profissional. Ele era gremista, tinha Neymar como exemplo e amava ensaiar seu futuro nas quadras sempre que podia. Tinha um desejo de ser um orgulho para aquela família.
Mas, lá dentro daquele sonho, estão amigos. Um vira-lata é a marca. Jack ficará sem seu companheiro e amigo de festas, em cada chegada ao campo. Por outro lado, o irmão mais velho, melhor amigo de Fernando, ficará sem sua dupla. O que parecia ser inseparável terminou num piscar de olhos.
Fernando se despediu da vida. Daquela família. Daquela quadra de futebol. Daqueles amigos. E a ele, e a todos, digo, com um cisco no olho: Novo Hamburgo chora a tua morte. Eu, repórter, choro a tua morte. Pedimos perdão. Perdão por essa vida terminar tão cedo. Perdão por uma bala de uma arma de criminosos terminar com a tua história. Teu sonho. Perdão por não ouvirmos antes pedidos da tua família que precisava de mais segurança onde tudo aconteceu. E que a simples frase “a vida seguirá” toque o coração de quem quer realizar sonhos como o que teu, para sempre. Que a esse pai, mãe, irmão e todos que o amavam: que a alegria e o cativante sorriso de Fernando sejam combustível para seguir o percurso de nossas trajetórias. Todos os dias.
Opinião do DuduNews. Terça-feira, 18 de outubro.