Há cerca de 50 anos atrás, uma então criança não pensava o que iria passar ao longo de sua vida. Com pai e mãe, e vários irmãos, o hoje sargento aposentado da Brigada Militar de Novo Hamburgo, Telmo Camargo, não pensou que teria que percorrer cerca de 300 km para, hoje, encontrar sua felicidade.
Filho de um pai mineiro e alcoólatra, Camargo foi abandonado por ele na infância. Logo quando criança, foi morar com uma outra família. E, nesta, viveu uma realidade terrível: era maltratado, espancado, e até chegou a passar fome. “Quando tinha 11 anos, fazia xixi na cama. Meu “pai” me afogava cabeça no colchão. Doía muito”, conta ele.

Mas ele deu a volta por cima. Com o passado, viu que podia fazer o bem. Morando no Vale do Sinos, Camargo serviu 28 anos a polícia gaúcha. Nesta história, viu um de seus grandes amigos policiais sendo mortos, sendo esse momento crônica premiada do jornalista Aurélio Decker. Agora, na reserva, ele faz o que chama de sua “família”: gerir, administrar e ser o pai de 94 crianças residentes do Lar Colmeia, que moram em Novo Hamburgo e Campo Bom.
O lar, que possui 11 casas para crianças que foram abandonadas pela família, é um exemplo para todo o planeta. A reportagem visitou o local.

Logo na chegada, sorrisos. Verde. Cheirinho de comida de vó. Sentimento de família. O portão da rua Estância Velha, número 20, abria com um sorriso de Telmo, que vinha abraçando a quem chegava.

Nas 7 casas do lar naquele local, todas mais arrumadas e impecáveis possíveis, dava para ver o sentimento de Telmo com esse lugar. “Falar do Lar é falar da minha família. Me emociono muito”, fala.
Logo na entrada, um prédio enorme mostra o louvável trabalho da instituição: são salas de atendimento psicológico, médico, de equipes, psiquiátrico. Além disso, refeitório, sala de festas, sala de convivência. Uma enorme estrutura para atender crianças abandonadas por pais que, na maioria das vezes, as espancavam, ou até passavam fome. A maioria dos registros é por vício em drogas.
ELAS E ELES
Das 94 crianças, 60 são hamburguenses. Nasceram aqui. “Novo Hamburgo tem nossa maior demanda, hoje. Apoiamos muito a cidade”, conta o brigadiano.
A reportagem visitou várias casas. Todas com ar-condicionado, TV’s, computador, cozinhas totalmente equipadas. Antes de Telmo assumir, a história do lar começa com uma parceria com missionários do Canadá. Eles ainda mantém parceria com o lar, e com a prefeitura, além da comunidade, que pode ajudar com todas as doações possíveis. Chama a atenção, também os lindos jardins, árvores, pracinhas. Tudo para todos.

De todos os atendidos, chama também a atenção: existem bebês de 1 ano. E adultos de 20 anos. Cada casa tem uma mãe para todos. “Amo ajudar eles a serem ser-humanos melhores, todos os dias”, conta uma mãe de coração a reportagem.

Mas se cada casa tem uma mãe, há um pai. Quem é ele? Telmo Camargo. Entre abraços e beijos, vieram alguns “filhos de coração”, que disseram: “Pai, olha o que eu fiz”; “Pai, o dia está lindo hoje”; Telmo falava: “Filho, me dá um abraço!”. Assim, a vida vai para frente – para Telmo e essas crianças, que vivem numa grande e emocionante Colmeia.
Telmo é diferente. Telmo é amor! E segue com o lindo trabalho de uma grande Colmeia, com muito carinho.

