Neste 7 de setembro é comemorado os 200 anos da Independência do Brasil. O Portal Vale do Sinos conversou com o historiador e escritor Rodrigo Trespach. Durante o bate-papo, Rodrigo contou como se deu a ruptura Brasil e Portugal, a chegada de D.João XI no país, além de contar um resumo de como se deu a independência do Brasil. Rodrigo ressalta que cada vez mais as pessoas deveriam refazer o resgate histórico através de leitura e estudos.
- Rodrigo Trespach é um renomado escritor e historiador brasileiro que já escreveu diversas obras sobre temáticas históricas pouco conhecidas, duas dessas vocês poderão acompanhar nesta matéria. Por meio de uma linguagem clara e objetiva, o autor costuma lançar uma nova perspectiva sobre o passado
Você conhece como ocorreu a Independência do Brasil? Confira o texto abaixo:
O Brasil é uma colônia portuguesa, no começo do Séc XIX não existia imprensa e não circulavam jornais. No Brasil não tinham escolas, a população estimada era de 5 milhões de habitantes e a maioria dessa população eram de escravos. As grandes cidades eram Rio de Janeiro e Salvador. O Rio tinha cerca de 80 mil habitantes, era a maior cidade do país, não tinha escola, não tinha biblioteca, nada que lembrasse uma civilização. A partir de 1808, quando João VI veio para cá, ele traz toda corte portuguesa, e com ela vem todo o aparato administrativo de um país. O Brasil começa a ter circulação de jornais, passa a ter criação de escolas e faculdades, a biblioteca nacional, que são livros da biblioteca de Lisboa que vieram para cá também. João VI criou uma estrutura, que vai dar a essa colônia um ar de país e ao longo dos anos vai se desenvolvendo o sentimento de estado. Dom João VI foge de Portugal para fugir de Napoleão, e mesmo quando Napoleão é derrotado, ele não retorna, ele fica no Brasil.
Em 1815, o Brasil é levado a categoria de reino unido a Portugal, ganha status de reino, e há uma série de pessoas que querem que o D. João VI continue no Brasil, governando o império português do Brasil. A partir de 1820 há uma revolução em Porto(Portugal), que é mais ou menos como a Revolução Francesa atrasada em Portugal. Eles querem impôr ao Rei uma constituição que fosse planejada e aprovada pelo povo. Então se estabelece o que se chama de “As Cortes”, e é As Cortes que passam a mandar em Portugal. Ela chama o Rei de volta, para jurar a constituição. Dom João VI volta e deixa no Brasil o Príncipe Regente, o filho dele, D.Pedro I, como administrador do local.
A partir de 1821, as coisas começam a ficar complicadas, porque As Cortes passam a exigir não só o Rei, mas que o Príncipe Regente retorne a Portugal. No congresso, em Portugal, é decidido que o Brasil seja recolonizado, ou seja, o país perderia o status de um reino unido a Portugal. Não teria mais caráter central no Rio, ela não seria mais a capital. Cada província responderia diretamente a Portugal, seriam lugares independentes entre si, que responderiam a Portugal. Isso leva a ruptura, e esse rompimento entre Portugal e Brasil.
Dom Pedro I está cercado de pessoas que querem que o Brasil se torne independente, o país tinha muito mais potência econômica do que Portugal. Ele fica aqui centrado, com o principal conselheiro, José Bonifácio. A grande outra contribuição que se dá, e que se fala muito hoje, é a Dona Leopoldina, pois ela era esposa de D.Pedro I, e ela, antes dele, já tinha a ideia e sentimento que o Brasil precisava ou iria se separar de Portugal. Há cartas dela do final de 1821 onde ela diz que D.Pedro I está decidido a ficar, mas não tanto quanto ela gostaria.
Entramos em 1822, e já a partir desse ano, no mês de janeiro, dia 9, ele diz que fica, é o famoso dia do “Fico”. Ele diz para os brasileiros que vai ficar e não vai voltar para Portugal. Após isso começam uma série de medidas, e eventos que vão romper com Portugal ao longo de 1822, não só no 7 de Setembro, e isso é importante de falar. O 7 de Setembro é parte de um processo que começou antes. Em fevereiro há uma divisão: os portugueses são expulsos do Rio, na chamada divisão auxiliadora, e se cria um conselho de procuradores, ou conselho de estado no Brasil.
Em maio ele recebe o título de defensor perpétuo do Brasil, e cria uma lei do Cumpra-se (Nenhuma lei portuguesa, nenhuma ordem de Portugal vai vir para o Brasil e vai se cumprir sem o cumpra-se dele), ou seja, ele precisava assinar um documento para que fosse cumprido. Isso já é um estado de rebeldia em relação à A Corte.
Em 3 de Junho, D.Pedro convoca uma Assembleia Constituinte, nos jornais da época, muitas pessoas consideravam o 3 de junho já o dia da Independência, porque se o Brasil tem uma constituição diferente de Portugal, então já é um país independente.
Em Agosto é feito um manifesto aos povos do Brasil, dizendo que o país vai romper com Portugal. No dia 14 de Agosto, ele vai do Rio de Janeiro até São Paulo, onde ele chega no dia 25. Ele vai buscar apoio das províncias brasileiras. Ele já tinha ido a Minas e agora vai a São Paulo. Põe ordem na casa, porque havia uma rebelião que estava contra o governo dele, trazendo os paulistas para seu lado.
No dia 5 de Setembro ele vai para Santos, para visitar o principal porto da província, e a terra do Bonifácio, que era o principal ministro dele. Nesse meio tempo, no dia 2 de Setembro, a Dona Leopoldina, que era então a regente do país, porque ele tinha ido viajar, preside o conselho do estado, reunindo os procuradores e ministros. Chegam cartas de Portugal, com notícias, dizendo que o Brasil vai ser recolonizado, vai perder o status de reino, que D.Pedro I tem que voltar para Portugal, e que José Bonifácio será preso. Ele (Bonifácio) e a Dona Leopoldina escrevem no dia 2 de Setembro para D.Pedro I, que está em Santos. Recomendam que não há mais o por que esperar, “volte para o Rio para fazer a independência”. As cartas são enviadas do Rio para São Paulo, D.Pedro estava voltando para São Paulo de Santos, e nesse caminho o carteiro encontra e entrega as cartas. Ele lê as cartas e proclama a Independência, faz o grito do Ipiranga, às margens do rio de mesmo nome.
José Bonifácio
D.Pedro I volta para o Rio, faz no dia 12 de outubro a aclamação, porque no 7 de Setembro ele estava reunido com menos de 40 pessoas, praticamente no meio do mato. São Paulo para ter uma ideia, tinha menos de 7 mil pessoas. O riacho do Ipiranga, onde hoje em dia é o Museu do Ipiranga, era afastado da cidade. Ele volta então pro Rio de Janeiro, e é aclamado no dia 12 de Outubro e coroado no dia 1° de Dezembro.
Aí começa a guerra da Independência, ele tem que expulsar tropas de Portugal de Salvador, Montevidéu no Uruguai, que pertencia ao Brasil na época. A partir de 1825 ele vai ser reconhecido como país independente por várias nações europeias e norte americanas. Assim se deu por conta a Independência do Brasil.
Esse foi um resumo que Rodrigo Trespach contou durante a entrevista. Caso você queira conhecer mais sobre a história, veja abaixo um resumo de seus livros. Confira a fala do autor sobre cada obra:
Livro: Às Margens do Ipiranga
Foquei e me concentrei em contar como foi a viagem dele (D.Pedro I) do Rio até São Paulo. Todo 7 de setembro a gente lembra do Grito do Ipiranga, de que ele estava em uma mula, que estava com diarreia e enfim, mas não se narra o contexto. No livro, eu conto para as pessoas como eram feita as viagens naquela época, o que se comia, o que elas vestiam e que tamanho tinham as cidades. Eu refiz o caminho que ele percorreu. Ele passa pela calçada da Lorena, uma calçada paralela a estrada de Santos, a antiga estrada de Santos, e é bastante íngreme. Eu até postei no Instagram partes desse trajeto, no meio da mata. A ideia é contar para as pessoas, aproximando o brasileiro de 2022 do brasileiro de 1822. A ideia do livro é focar na viagem que culminou com a independência, de como ele chegou até a margem do Ipiranga para fazer a Independência.
Livro: Personagens da Independência
Quando falamos do 7 de Setembro, normalmente a gente lembra do José Bonifácio, Dona Leopoldina e do D.Pedro I, que são os personagens principais desse enredo, dessa história toda. Eles acabam decidindo o destino do Brasil. Todos meus trabalhos e livros tem um viés de mostrar para as pessoas, coisas que elas não se dão conta. Então o que eu fiz nesse livro: 50 biografias, 50 personalidades digamos assim. O livro tem 10 capítulos temáticos.
A ideia é mostrar esses personagens que não são lembrados, ou que ficam ocultos quando se fala na Independência. Uma coisa importante hoje em dia, é que o olhar da mulher é uma coisa do século XXI, olhar a importância da mulher.
Pintura ilustrando o conselho com Dona Leopoldina (imagem ao lado)
O livro tem essa ideia não só de contar as pessoas que viveram naquela época, mas as pessoas que ajudaram a construir essa imagem que nós temos do Brasil de Independência. Há outros artistas, por exemplo o Pedro Américo, que fez o quadro da Independência ou Morte, mas o livro usa o quadro do Moreaux, que é um francês, que é a primeira representação do Grito, ela é da década de quarenta, 20 anos depois da independência.
Reportagem Especial por Marlon Nóbrega