Por DuduNews
“Preocupante”. Essa foi a palavra que o DuduNews mais ouviu ao longo de sexta-feira, 8. E das pessoas que mais precisam. Que mais serão afetadas e impactadas: os portadores de umas das doenças mais terríveis da história: o câncer.
Os relatos, cheios de dor e angústia, chegaram, após o DuduNews confirmar, com a prefeitura de Novo Hamburgo, que a cidade não seria mais referência no tratamento da doença, pela rede pública de saúde (SUS) – a maior e mais importante. A decisão é do governo estadual, na semana passada, pegando de surpresa, até mesmo, o Executivo.
Agora, Taquara será referência.
O estado também confirmou a informação nesta segunda-feira (11).
A prefeitura confirmou os números: são 943 pacientes mensais atendidos pelo SUS. São quase mil pessoas, em uma doença grave, em um tratamento extremamente complicado. A prefeitura, respeitando a decisão do estado, garante que o transporte de Van está garantido. Mas ficam as perguntas: como será a logística deste transporte? Pacientes graves precisarão ir a Taquara, distante 40 km de uma das maiores cidades do Rio Grande do Sul, para buscar a sua esperança de vida? Como será a qualidade de vida dessas pessoas?
Outra pergunta que fica é o que aconteceu para tal situação chegar assim: uma decisão de surpresa, sem nenhuma divulgação ou informação passada, ou imaginação que isso poderia acontecer. O que aconteceu entre a Secretaria Estadual da Saúde e o Hospital Regina, para encerrarem uma parceria fundada em 1991, e que, com certeza, já tratou e curou milhares de pessoas?
Além disso, orgulho-me de ter o Hospital Regina em Novo Hamburgo. Devemos nos orgulhar. Uma estrutura referência. E que merece nosso respeito. Ainda mais, com os excelentes profissionais do câncer que lá existem.
LIGA FEMININA
Conversei com ex-dirigentes da Liga Feminina de Combate ao Câncer. Todas elas garantem: a decisão é absurda. Uma ex-dirigente lembrou a época que não existia oncologia em Novo Hamburgo. “Os pacientes precisavam ir de ônibus a Porto Alegre. Era horrível. Não havia qualidade de vida para essas pessoas. Parece que ninguém está vendo isso”, disse. Novamente: não era o tratamento, nem a estrutura oferecida. Mas a logística e a estratégia para chegar lá.
Além disso, a ex-dirigente da entidade lembra que ao total, são mais de mil pacientes atendidos – visto que existem consultas de rotina, de 3 em 3 meses, para quem já possuiu a doença.
A presidente da Liga, Regina Dau, em entrevista ao editor, foi suscinta: “Estamos regredindo, principalmente nesta hora que pessoas carentes e com câncer sofrem, e precisam de atendimento. Essas terão que se deslocar para outras cidades para serem tratadas. Nós vemos diariamente este sofrimento , estamos apreensivas, bem como toda comunidade. Nunca iremos parar”, disse ela.
A clínica de Taquara, Oncoprev, garante que poderá atender a todos. Foi o que um dos diretores da clínica, Henrique Träsel, ao Jornal Repercussão, que a clínica tem estrutura para atender. “Ficamos contentes com essa referência. Temos condições e estrutura para atender a todos”. A clínica afirma que possui mastologista, hematologistas e cirurgiões torácicos.
Vale dizer que o problema, aqui, não é a clínica, ou sua escolha. Mas a logística. A estratégia. E tantas outras coisas, visto que tem estrutura em Novo Hamburgo para isso!
Realmente, é uma decisão que surpreende. Uma decisão que pode vir a afetar a vida de várias e várias pessoas. É preocupante.
CONTRAPONTO
A prefeitura Hamburguense afirmou: “A Secretaria Municipal de Saúde de Novo Hamburgo está trabalhando para minimizar ao máximo eventuais transtornos a pacientes oncológicos do município em atendimento pelo SUS e passarão a ter o Hospital Bom Jesus de Taquara como referência. A Secretaria Estadual de Saúde não irá renovar o credenciamento do Hospital Regina, que terá seu contrato encerrado em 26 de maio. Atualmente, há 943 pacientes de Novo Hamburgo e cidades vizinhas que passarão a ser tratados em Taquara.
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Reidel, destaca que o município vai providenciar transporte aos pacientes até Taquara. “Nenhum paciente ficará desassistido. Como recebemos a confirmação recentemente, estamos trabalhando para construir soluções para seguir os tratamentos oncológicos normalmente, mas em Taquara”, disse o secretário, tranquilizando pacientes e familiares.
Reidel enfatiza que a Prefeitura estava satisfeita com o serviço prestado no Hospital Regina. “Mas infelizmente o Estado não renovou o credenciamento com o Regina para atendimento oncológico pelo SUS. Agora, estamos buscando reduzir os transtornos”, completa. Havia a possibilidade dos pacientes hamburguenses serem refenciados para Porto Alegre, mas isso não se efetivou devido à incapacidade momentânea de hospitais da capital absorverem os pacientes atendidos em Novo Hamgurgo, daí a opção do Estado pelo Hospital Bom Jesus de Taquara.”
O governo do Estado não respondeu ao nosso questionamento.