Antropóloga da Feevale elogia sistema, mas pondera que ele não acabará com exclusão no ensino superior
Cotas raciais, você é contra ou a favor? Quando o assunto é colocado em discussão, sempre surgem aqueles que são favoráveis, por entender ser uma pequena válvula de escape importante para se combater as desigualdades sociais, assim como há os contrários, que a consideram preconceituosa e discriminatória, simplesmente por existir.
Sobre este tema, a antropóloga da Feevale, Margarete Fagundes Nunes conversou com o portal novohamburgo.org. Ela visualiza que o momento vivido pela comunidade escolar é exatamente de avaliação da proposta em que assegura vagas para negros nas universidades.
“Periodicamente, vai haver avaliações educacionais, em termos de núcleo governamental, para conferir se os resultados obtidos conferem com aquilo que a sociedade está esperando”, comenta Margarete.
O argumento principal para existir as cotas raciais nas universidades federais e até nas particulares (através do Pró-Uni), diz Margarete, é que esse mecanismo assegura um espaço para os estudantes que tradicionalmente foram excluídos do sistema educacional consigam visualizar uma vaga. “Para auxiliar nesse avanço, mais recentemente passou a ser disponibilizado a esse público carente os cursinhos pré-vestibulares”, argumenta.
Mas, se o estudante visualiza uma vaga lá na universidade, como ele consegue chegar até lá? “Realmente, esse é ainda um desafio para o cidadão negro: vencer as etapas do ensino fundamental e médio, conseguir se beneficiar com o curso pré-vestibular e com o pagamento de seu curso de graduação, que já é assegurado pelo governo”, justifica.
A antropóloga reconhece que o sistema de cotas é uma ferramenta que não vai resolver o problema de acesso à educação. Pensa que ele é uma ferramenta muito modesta no combate à exclusão dos alunos.
Margarete lembra que, paralelamente, há ainda a questão das cotas sociais, que só permite aos estudantes excluídos ingressarem na educação de terceiro grau se elas forem oriundos do ensino público.
A professora concorda que é preciso fazer um raciocínio sobre o fato lamentável de que somente em torno de 1% da população brasileira chega aos bancos universitários, e que bem menos da metade desse público é negro. “Se o olhar partir desse prisma, é possível visualizar o quanto ainda é preciso caminhar para construir um sistema mais justo”, destaca.
Tudo isso que está sendo feito na educação superior é muito pouco, pensa Margarete, se o governo não emitir medidas de cunho social que permitam a redistribuição de renda no país.
“O sistema atual permite que em torno de 90% das riquezas se concentrem nas mãos de 10% da comunidade e que o os outros 10% das riquezas sejam distribuídos entre a grande maioria da população”, observa.