Sempre costumo dizer que os mais incríveis shows que assisti na minha vida foram do Vitor Ramil. Posso tentar apurar os motivos dessas impressões que Ramil me causa: a proximidade do imaginário do músico com o meu próprio, pela nossa origem interiorana; a paixão expressa em suas músicas por Porto Alegre, que compartilho com igual intensidade; mas creio que mais longe ainda vai a sua capacidade de rasgar a cortina da simplicidade das canções de inspiração folclórica e chegar até o limite da universalidade.
O mundo inteiro, e a história do mundo, e suas lendas e suas imagens mais improváveis cabem inteiros naquele espetáculo intimista que Ramil nos brinda: louca e plena poesia declamada por uma voz arrebatadora, e ainda acompanhados de uma harmonia poderosa e envolvente nas suas cordas de aço. Vitor Ramil no palco é a expressão plena de todos os seus talentos.
Não posso esquecer do show (único) que ele e Nei Lisboa fizeram juntos no Teatro do SESI lá por idos de 2000 e poucos. Rocks, pops, Beatles, duetos, e ainda um final apoteótico que, tenho certeza, deixou a todos hipnotizados como eu. Até hoje nunca vi nada mais marcante num palco. Quer outra? Vitor Ramil com Frank Solari, acompanhados pelo Conjunto de Câmara do Theatro São Pedro, cantando “Strawberry fields forever” dos Beatles (também lá por 1999 ou 2000). Isso foi algo inesquecível, realmente.
Na quinta-feira, 05 de dezembro, o último espetáculo da série “Unimúsica 2007 – O som das palavras” promovida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul apresentou “Vitor Ramil na linha de Barbosa Lessa”. Tudo bem, o show não foi nada tão apoteótico assim, até mesmo porque não era o que pedia a ocasião.
Vitor apresentou um espetáculo intimista no Salão de Atos da Reitoria, apenas calcado em violão e voz, cantando composições próprias entremeadas por aquelas belas canções que todos nós conhecemos como “Quero – quero”, “Balaio” e Negrinho do Pastoreio”. Além disso convidados ilustres como Marcelo Delacroix, Peri Souza e o uruguaio Daniel Drexler fizeram parte muito importante do show.
Ramil evocou a imagem de Barbosa Lessa na palavra “leveza”. A pergunta que ele lançou à platéia em determinado momento de reflexão é bem de se ficar remoendo por um longo tempo: “Onde foi parar a leveza da música gauchesca? Aquela leveza que marcava tão bem a obra do Barbosa?
Quem assistiu ao show sabe que em grande parte a resposta a esta pergunta estava ali no palco, naquele momento. As canções de Ramil realmente conversam com este imaginário do gaúcho “romântico” (no sentido literário da palavra). O gaúcho que tem saudade do rancho da infância, e que traz o verde do pampa gravado no primeiro plano de suas memórias, o doce-amargo do chimarrão, o cavalo, a neblina, o fogo-de-chão, a carne gorda, o m’boitatá, as bravatas do passado glorioso, Garibaldi e o navio farroupilha e as reminiscências cantadas em forma de milonga…
Este ritmo melancólico que se confunde com a própria alma e a identidade do gaúcho; a única e justa explicação para o nome da canção “Ramilonga”, em que o artista mescla o seu próprio nome com o ritmo sobre o qual caminha o seu universo particular. Como disse o Daniel Drexler ao se apresentar naquela noite: se a história do Uruguai (e também a do RS) fosse um filme, a trilha sonora seria uma obrigatoriamente uma milonga.
PICK OF THE WEEK – Radiohead – Reckoner
Muito estardalhaço se fez na mídia sobre o lançamento do novo disco “In Rainbows”, Radiohead, pela maneira como foi lançado na web. Mas muito pouco foi falado sobre o real conteúdo do disco: um prato cheio de canções fora do usual, com boas doses de efeitos eletrônicos, sem deixar de lado as guitarras, e a formação básica de banda de rock; tudo, é claro, ao próprio estilo da banda que tem se mantido coerente ao longo de toda sua trajetória.
Destaco a faixa no. 7 do disco: Reckoner. Um belo trabalho vocal psicodélico, que é marca garantida de Thom Yorke, calcado sobre um ritmo muito bem marcado na bateria, e até quase dançante, porém em “fade out”, fazendo um fundo bastante suave para a canção. E no recheio disso tudo umas guitarrinhas suavemente dedilhadas e teclados que fazem harmonia com o vocal. Nota dez! É experimentalismo na veia!!!
Site oficial do lançamento do disco “In rainbows”: www.rockpress.com.br