Não é bobagem pensar que a música está (ou pode estar) estritamente relacionada com o que sentimos. Às vezes um estado de alegria qualquer ou de melancolia ou de cansaço, ou mesmo um bem-estar com a vida nos remete a uma canção, que então insiste e rondar nossa cabeça, por um dia inteiro ou mesmo durante vários dias.
Outras vezes ocorre justamente o contrário: aquele belo dia em que uma música vem e nos pega de jeito, e sugere um outro sentimento, um estado de espírito. E nesses momentos parece ocorrer algo irreversível! Parece que somente poderemos experimentar novamente aquela mesma sensação ao ouvir novamente aquela mesma melodia ou harmonia, aquele mesmo verso que nos diz tanto, parecendo traduzir completamente a nossa vida naquele momento.
Desde a época do cinema mudo os diretores sempre souberam muito bem explorar a capacidade que a música tem de traduzir, ou mesmo de acrescentar informações a uma seqüência cinematográfica. E muitos músicos passaram a carreira inteira compondo trilhas sonoras de filmes, desenvolvendo a extremos esta capacidade de encontrar em frases musicais os significados (muitas vezes subentendidos) de grandes filmes do cinema. Só para citar alguns mais conhecidos: John Williams (Star Wars, Indiana Jones), Vangelis (Blade Runner, Carruagens de fogo), Nino Rota (O poderoso Chefão), Henry Mancini (A pantera cor-de-rosa).
E eu ainda não conheço nada mais poderoso para sugerir-nos um estado de espírito do que esta combinação da música (som) com o cinema (imagem e linguagem).
E um dia desses, uma música de um filme me pegou de jeito assim, desse jeito irrecuperável. The bridge of San Luis Rey (Espanha-Inglaterra-França, 2004) tem uma trilha sonora impecável. Talvez a mais bela trilha sonora instrumental que ouvi no cinema nos últimos anos. O filme trata de uma história muito curiosa que se passa no século XVIII no Peru, e que traz à tona uma discussão filosófica sobre a fé, em uma época em que aqueles que a questionavam eram queimados vivos, junto com a sua obra. Acaba de ser lançado em DVD, e eu já ando procurando pela trilha sonora que é composta por Lalo Schifrin. Este músico é argentino, e também é responsável pelo famoso tema do filme “Missão Impossível”, que é o mais popular entre os cinéfilos e também nos telefones celulares hoje em dia.
› The Bridge of San Luis Rey (Site oficial)
› Lalo Schifrin no IMDB (Internet Movie Data Base)
Banco de dados completo sobre trilhas sonoras de filmes:
“Top 100 Soundtracks” (americanos):
› http://www.filmsite.org/100soundtracks.html
Pick of the Week – Minhas Lágrimas – Caetano Veloso
Poucos ícones pop do calibre de Caetano Veloso chegam aos 60 anos com esta capacidade camaleônica que ele tem de se reinventar e criar novos trabalhos que conquistem novos públicos (até porque poucos chegam aos 60 anos na ativa…). O novo disco chamado “Cê” traz um tom assim, sacudindo a poeira, vestindo uma poesia mais despojada, e nem por isso menos elaborada. E tem esta canção chamada “Minhas lágrimas”, intimista e melancólica, que conversa com o novo pop inglês, com influências de Thom Yorke, do Radiohead, o petardo psicológico experimentalista inglês. Isso tudo funciona bem melhor quando se entende “de primeira” o lirismo da letra, expresso em bom português. O site de lançamento do disco traz todas as letras, e uma versão quase na íntegra do disco, para ouvir on-line. Não perca!
Caetano Veloso – “Cê”: http://www.caetanoveloso.com.br/ce.html
Radiohead na Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Radiohead