Confesso que há momentos, nesta minha vivência cada vez mais constante com as adversidades que comprometem a saúde do nosso rio, em que meu otimismo fica abalado e me pergunto:
Será possível, ainda, recuperar o Rio dos Sinos?
No início, as minhas ações eram direcionadas a falta de água do nosso rio, a retirada da mata ciliar, à mineração ilegal de areia, à poluição do rio, a captação de água pelas lavouras, à estiagem, que a cada ano está mais severa,
A mortandade de peixes ocorrida em 7 de outubro de 2006, quase um ano atrás, levou-me a conhecer outros problemas, outras agressões, cujos impactos são decisivos para determinar a qualidade de vida do nosso Rio.
Dois arroios em particular captaram minha atenção, através de denúncias: O Arroio Estância Velha e o Arroio Pampa, nessa ordem. O primeiro foi objeto de ilustração da grave condição de poluição e sua contribuição para o estado crítico do Arroio Portão na sua foz no Rio dos Sinos e na mortandade de peixes, na Audiência Pública realizada no dia 18 de outubro de 2006, pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado, atendendo minha solicitação.
A partir dali, o Pampa passou a ser alvo de atenção e ações especiais com o apoio do Batalhão Ambiental e da FEPAM e três empresas foram autuadas por lançamento de efluentes não tratados no Arroio Pampa.
O evento mais importante ocorreu no sábado, dia 9 de julho deste ano, quando, já pela manhã, as águas do arroio estavam completamente pretas e bastante volumosas, mas a constatação só ocorreu às 14h30min da tarde. Confirmada a ocorrência a FEPAM foi acionada e por volta das 17h chegou a Novo Hamburgo, e aceitando o convite formulado, nos encontramos em frente à Prefeitura de NH, e começamos o monitoramento, que nos conduziu até perto da nascente do Pampa, no Kephas, um local onde não existe qualquer tipo de atividade de curtume.
Em todo este tempo, não tinha visto nada igual; Eram 18:30hr e as águas do arroio Pampa ainda estava pretas sob a ponte da rua Curitibanos no bairro Canudos. Os próprios fiscais da FEPAM estavam impressionados com a quantidade de resíduo despejados no Arroio.

Parecia estarmos diante de um mistério, porém os fiscais da FEPAM foram bem realistas. Em casos, como estes, não existe mistério e na segunda-feira, dia 11, isto ficou comprovado.
Em uma nova fiscalização realizada pela manhã, nesse dia, foram descobertas evidências concretas de lançamentos de efluentes dentro do pátio de uma empresa inativa há mais de 14 anos, bem como um dreno na margem do arroio, que mesmo após toda a chuva que caiu no domingo, ainda se percebia um líquido de coloração escura, proveniente das dependências dessa empresa, que escorria, misturando-se às águas do arroio.
Foi constatada, também, uma grande quantidade de resíduos de couro (aparas, pó de lixadeira, tambores com conteúdo desconhecido) tanto dentro de um prédio abandonado como no pátio da empresa, depositados de forma irregular, estando este local bastante próximo (menos de dois metros) de um braço do Arroio Pampa,
Dentro de um dos prédios, os vasos sanitários foram arrancados, e no local da saída dos dejetos, foi colocado um cano apropriado para colocação de mangueira, do tipo usado para limpar fossas, levando a crer ser utilizado para despejo de resíduos, provavelmente transportados por caminhões-tanque, já que dentro das dependências das empresas, hoje responsáveis pela área, nada está em funcionamento.
Neste caso, como no outro, as providências legais foram tomadas pelo órgão competente da FEPAM.
Através de palestras realizadas em alguns municípios da bacia, fui conhecendo a realidade de outros arroios, pois o conteúdo da palestra tem como objetivo retratar a situação real desses corpos hídricos à comunidade alvo e sua relação com o Rio dos Sinos, e, assim, cheguei a triste conclusão que muitos municípios, têm um ou mais “Pampas”.
Mas havia outro impacto que queria conhecer, e que por fim aconteceu durante a última fiscalização integrada, realizada no dia 14 de agosto, pelo Grupo 2, da Força-Tarefa do Rio dos Sinos e Gravataí, do qual participamos.

Visitamos algumas empresas, todas apresentando irregulares, diga-se de passagem, e ainda na parte da manhã fomos conhecer a Casa de Bombas e um loteamento em fase de terraplenagem junto ao Arroio Gauchinho.
A visão é assustadora e não pude deixar de comentar com o Pieper, Coordenador da Força tarefa, que, persistindo estas condições, é difícil recuperar o Rio dos Sinos.
As fotos aqui apresentadas, ao longo deste texto, mostram bem a gravidade da situação e o grau de poluição das águas do arroio, e do lixo acumulado dentro do leito e nas margens.
Percebo que há muito por fazer e que é preciso congregar forças para elaborar ações concretas que visem desenvolver, na comunidade responsável por essa degradação ambiental, uma consciência ecológica comprometida com o meio em que vive.
Felizmente, vislumbro “uma luz no fim do túnel” quando, participando, recentemente, de reuniões e outras atividades, encontrei pessoas e entidades preocupadas com a situação e dispostas e elaborar projetos de amplo aspecto, que contemplem ações voltadas para a solução do problema, com resultados positivos para o Rio dos Sinos.
Há também o Projeto de recomposição de Mata Ciliar da Bacia, em locais de médio impacto, que estamos elaborando em parceria com a SEMA/RS – através do DEFAP – Departamento de Florestas e Áreas Protegidas que já está em andamento.

Em Novo Hamburgo abrangerá duas áreas: A nascente do Pampa, com especial atenção às encostas dos morros (APA e APP), desmatadas para expansão urbana desordenada e irregular e em situação de risco e em um trecho na margem esquerda do Arroio Luiz Rau, no bairro Santo Afonso, de onde estas famílias serão retiradas e instaladas no Loteamento Nações Unidas, nas imediações do Canil Municipal.
São, pois, estas parcerias e a certeza da existência de pessoas realmente comprometidas e dispostas a realizarem um trabalho voluntário, que é possível, ainda, acreditar na possibilidade de recuperar o nosso Rio dos Sinos.
Há muito por fazer. Participe, seja um voluntário e ajude a recuperar o nosso Rio dos Sinos, o rio das nossas vidas.
Para saber como participar, contate esta colunista. O Rio dos Sinos agradece.
Dione Dias de Moraes é Ambientalista e Coordenadora do SOS Rio dos Sinos – Campanha “EU AMO RIO DOS SINOS – ÁGUA Á VIDA”.