“Todo mundo tem que ajudar. Temos que limpar pensando no futuro das nossas famílias.”
Este foi o depoimento do jovem Ismael Petzinger, de 15 anos, estudante da 7ª série da Escola Municipal Salgado Filho, ao ser questionado sobre os motivos que o levaram a engajar-se nessa idéia.
Com luvas, e muita disposição, Ismael integra o grupo de voluntários que concretizam as ações do mutirão de limpeza do arroio Pampa, um dos objetivos da campanha “Eu Amo o Rio dos Sinos – Água É Vida”.
Fotos do mutirão do dia 12 de maio
Fotos do mutirão do dia 28 de abril
É possível ver nos olhos dos membros da equipe de voluntários algo mais do que o simples desejo de participar de um mutirão. Percebe-se a integração de cada um deles com os problemas vivenciados nesse trecho em que estamos atuando.
São muitas situações que nos tocam, nos sensibilizam. O contato com as crianças que ali residem é algo inevitável e a camaradagem corre solta. Estão ao nosso redor, e procuram nos ajudar da maneira que podem, distribuindo as cartilhas da campanha, os folhetos da Defesa Civil, ajudando na distribuição dos sacos de lixo entre os grupos que estão atuando distantes uns dos outros, pois não permitimos que eles participem da retirada do lixo diretamente do arroio.
Outra situação que despertou minha atenção, desde que iniciamos os mutirões na nascente, é a ocupação das encostas dos morros e o conseqüente desmatamento. A medida que descemos junto às margem do arroio, novas situações de apresentam.
O Sr. Álvaro, coordenador da Defesa Civil, preocupado, mostra-me o perigo a que uma casa e seus moradores estão expostos, se houver um desmoronamento da encosta, onde acima foi construída uma outra casa, de forma irregular e ilegal, por ser uma APA (área de preservação ambiental) e ao mesmo tempo uma APP (área de preservação permanente).

Logo abaixo Simão, guarda municipal e voluntário, chama minha atenção para outro caso de risco, quase a mesma situação, mas agravado pelo fato de o pilar de madeira que sustenta a casa apresenta uma rachadura que compromete a estabilidade da casa.
Mencionei apenas duas de tantas outras situações existentes na Vila Santiago, que a ocorrência de uma grande chuvarada poderá provocar uma catástrofe. Fotografamos as cenas para incluir no relatório que será apresentado na próxima reunião da Comissão de Gestão.
Do ponto que paramos em diante, o trecho que atuaremos no próximo mutirão, vislumbra-se um pouco mais difícil, pois ele corre bem junto às residências, sobrando pouco espaço para nossa movimentação, mas nada, entretanto, que nos impeça de continuar.
Retornamos ao local em que atuamos no dia 31 de março, e com grande alegria verificamos que o terreno do Sr. Jorge Ertal fora limpo, conforme havia combinado que faria (antes e depois, nas fotos abaixo). Fui até lá e tirei uma foto para comparar com a anterior.


Timidamente ele apareceu no canto da casa para me cumprimentar e elogiei-o pela ação realizada, dizendo-lhe que agora o local estava ficando de acordo com o ambiente em que ele merecia viver. Entusiasmado, e já com outra aparência, disse que iria melhorar ainda mais.
Há um consenso entre o nosso grupo de voluntários. Jamais conseguiremos retirar toda a sujeira acumulada por anos e anos no Arroio Pampa, mas os efeitos colaterais das nossas ações, estas sim, estão produzindo grandes resultados.
A conscientização, que é um dos objetivos da campanha está aos poucos despertando nas pessoas que residem às margens do arroio. Vemos isso quando retornamos aos trechos que limpamos e os encontramos conservados limpos, ou nos deparamos com pessoas que assumiram o compromisso de manter a área limpa.
O último mutirão foi diferente por isso. Encerramos as atividades com a sensação do dever cumprido, e nos reunimos, pela primeira vez, para compartilhar um refrigerante, fazer um lanche com biscoitos, brincar e rir descontraidamente, ali, em plena Vila Santiago, frente a um barzinho na rua Pedras Claras.
Tínhamos o que comemorar, com certeza.
Dione Dias de Moraes é ambientalista e coordenadora da campanha Eu Amo o Rio dos Sinos – Água É Vida.