No dia 8 de março, o SOS Rio dos Sinos completou um ano de atividades. Criado em função do baixo nível do Rio dos Sinos, que mais perecia um riacho no dia 14 de janeiro de 2006, aos poucos foi se expandindo, agregando mais ações, em vista da complexidade dos problemas relacionados com os nossos recursos hídricos, como a poluição doméstica, industrial, a questão do lixo, mas, principalmente a situação dos arroios que drenam as cidades.
São os arroios que levam consigo até o rio, não as águas puras e cristalinas de suas nascentes, mas, toda a sorte de dejetos e rejeitos, como se os arroios fossem uma espécie de lixeira, que leva tudo embora – pra longe dos olhos – mas que na verdade, vai contaminar as águas do Rio dos Sinos, tão necessárias a vida de muitas espécies.
Uma das atividades previstas dentro da campanha “Eu Amo o Rio dos Sinos – Água é Vida”, são os mutirões de limpeza no Arroio Pampa, desde sua nascente até a foz.
Iniciamos esse trabalho no dia 24 de março, pela nascente do Pampa e levamos um grande susto. Em novembro do ano passado havíamos, eu, o Luiz Carlos Schenrlte e o Padre Paulo Schmidt, feito um levantamento de toda a extensão do Arroio e tínhamos, como mais preocupante, o trecho após a Avenida dos Municípios em direção à foz.
Tanto que buscamos logo criar um projeto para limpar aquela parte do arroio como uma prioridade. Mas o que o nosso grupo de voluntários viu ao chegarmos à nascente foi algo que mexeu demais com todos nós.
A divisão por trechos teve que ser revista em função do estado crítico em que se encontra o local, pois, após dois mutirões, não conseguimos vencer o primeiro trecho. O número de casas irregulares cresceu em direção às encostas dos morros, devastando a vegetação da APP, criando situações de riscos.
Além de o esgoto doméstico ser lançado diretamente nas suas águas, esse pequeno e ainda frágil arroio recebe todo o lixo que se possa imaginar.
Há muito lixo depositado, mais acima, nas encostas dos morros, que a erosão causada pelas águas das chuvas, está fazendo esse lixo descer em direção ao arroio. A quantidade é grande e sua localização dificulta o acesso. Será necessário buscar alternativas para sua retirada.
No primeiro mutirão, foram utilizados 50 sacos de 100 litros para retirar o lixo depositado no arroio, além de dois animais mortos (um cachorro e um porco) de dentro do seu pequeno leito. Outro porco chafurdava dentro do arroio e convencemos o seu dono a retirá-lo, quando explicamos que a água da mangueira que abastecia a casa dele, vinha das águas daquele arroio, que depois chegar ao Rio dos Sinos, era captada pela Comusa, tratada e devolvida a população.
O estado da área no seu entorno é de degradação, em todos os sentidos. E o nosso grupo saiu de lá com uma grande preocupação quanto às condições de salubridade das famílias, principalmente as crianças.
Enquanto nos preocupávamos em manter-nos devidamente protegidos, com luvas e sapatos adequados, para evitar possível contaminação, as crianças andavam descalças pelo local, pisando dentro do arroio, brincando nos arredores, alheias aos riscos a que estão expostas.
Conhecer a nascente do Pampa e o seu percurso, até a foz no Sinos, é conscientizar-se da realidade quanto poluição da sua bacia. Cada município tem um ou mais “Pampas”, com maior ou menor grau de poluição, dependendo da sua característica. Quanto mais populoso e industrializado, tanto pior é o estado das suas águas.
Partindo deste princípio, a recuperação do Rio dos Sinos passa inexoravelmente pela recuperação dos arroios, que não se revolve apenas com a implantação de redes de esgoto e estações de tratamento.
Vai muito mais além, pois envolve situações delicadas criadas a partir da ocupação ilegal de Áreas de Preservação Ambiental (APA) ou Áreas de Preservação Permanente (APP), com a conseqüente extinção da mata ciliar, a degradação dos corpos hídricos, deixando evidente a total ausência de uma consciência ecológica.
A solução desses conflitos com nossos recursos naturais está na realização de ações promovidas com uma atenção especial de todos os organismos da gestão pública, em conjunto com a comunidade.

É preciso dirigir nossos olhos para essas situações de conflito existentes no arroio Pampa, principalmente nas adjacências de sua nascente, para que possamos ter uma visão realista sobre nossa cidade.
Há uma parte de Novo Hamburgo que precisa de nossa atenção especial, se quisermos, realmente, recuperar os nossos recursos hídricos e de quebra, resolveremos também uma importante questão social e urbana.
Alguns moradores comprometeram-se a manter seus terrenos limpos, o que já significa um grande avanço no desenvolvimento de uma consciência ecológica.
Mas, novas ações serão desencadeadas buscando envolver toda a população dessa vila. Nesse sentido, bem como o estudo de um Plano Especial, específico para os conflitos existentes nessa área.
O grupo de voluntários tem a coordenação do Sr. Álvaro Lucídio Pinto, coordenador da Defesa Civil. O mutirão do dia 31, além do grupo de voluntários, contou também com a participação de alunos do EJA, da Escola Municipal Salgado Filho, sob a coordenação da professora Cleris Pinto.
O próximo mutirão ocorrerá no dia 28 de abril, tendo por local o trecho abrangendo a Escola Municipal Arnaldo Reinhardt, na Vila Iguaçu, e contará além do grupo de voluntários, também com a participação de alunos e monitores ecológicos dessa escola numa ação integrada com a Campanha 100% Iguaçu.
O número de voluntários está crescendo, e isto nos incentiva a continuar com mais afinco esse trabalho. Estamos abertos a novas adesões. Quem quiser se inscrever envie um e-mail para [email protected], com seu nome e nº de telefone para contato.
O nosso Rio dos Sinos agradece e o Pampa também.