Perda da fauna funciona como um vetor de seleção natural da palmeira. Tamanho do bico das aves é o motivo: só aquelas que tem bicos grandes conseguem dispersar frutos maiores destas árvores.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Um artigo publicado nesta sexta-feira, dia 31, na revista Science, aponta que a extinção localizada de tucanos em trechos da Mata Atlântica influencia na oferta de palmito, conforme grupo de pesquisadores do Brasil, México e Espanha.
Os cientistas observaram que nos remanescentes da floresta onde a ave desapareceu há mais de 50 anos pela caça ou por desmatamento, as sementes de palmito juçara são menores do que nas matas que conservavam os tucanos. E tudo por causa do tamanho do bico das aves: a palmeira dá frutos de variados tamanhos, mas os grandes são comidos, e dispersados, somente por aves de bico também grande, como os tucanos.
A conclusão dos pesquisadores é que, com o passar dos anos – talvez um século –, a perda da fauna funciona como um vetor de seleção natural da palmeira. Ao longo de cinco anos, até o ano passado, os pesquisadores coletaram mais de nove mil sementes de 22 populações de palmeiras, espalhadas em pequenos fragmentos e em áreas de floresta contínua da Mata Atlântica entre o Paraná e o sul da Bahia. Em sete deles (seis em São Paulo e um no Rio de Janeiro, áreas que sofreram o impacto humano há mais tempo) não havia mais sementes grandes.
Mata Atlântica teria mais aves
em risco do que se pensava
Outro estudo também dá conta da preocupação de cientistas quanto ao futuro da Mata Atlântica. O local teria mais aves em risco do que se pensava, segundo pesquisadores liderados por Gareth Russel, do Instituto de Tecnologia de New Jersey, nos Estados Unidos.
Seu novo método, publicado no periódico Plos One nesta semana, relaciona a fragmentação do habitat à sustentabilidade das populações. “Já sabíamos que a maioria das espécies tem acesso a muito menos do que o habitat tipicamente assumido para elas”, relata Russel. “Mas o que permanece do habitat também é altamente fragmentado. Olhando a área por si só não é suficiente.”
Mapas mais precisos dos habitats mostram a extinção da fragmentação, mas os estudiosos ainda precisam relacionar a distribuição dos habitats de cada espécie ao seu risco de extinção de uma maneira objetiva e consistente. O estudo aplicou o método para 127 aves passeriformes que habitam a mata atlântica, uma área que perdeu mais de 90% da sua floresta original.
Os autores descobriram que de 58 espécies que possuem habitats severamente fragmentados, 28 não são atualmente consideradas ameaçadas, de acordo com a mais recente lista vermelha publicada pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Com esses resultados, os autores recomendam que a classificação de risco dessas espécies seja reexaminada.
Informações de Estadão e Folha.com
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