O programa anunciado pelo Governo Federal provoca opiniões contrárias, já que se esperava, que antigas reivindicações do setor fossem atendidas
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Para a presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha, Fátima Daudt, as medidas anunciadas na terça-feira, 12, pelos ministros Guido Mantega e Miguel Jorge são inadequadas para modificar a atual situação do setor coureiro-calçadista.
Fátima acredita que o Governo Federal ainda não entendeu as necessidades do setor. “O conjunto de medidas anunciadas não soluciona o problema enfrentado pelas indústrias, mas sim ameniza a forma de buscar financiamentos, e financiamento não é a ferramenta adequada para reconquistar a competitividade causada por um câmbio depreciado. Não podemos financiar prejuízos”, ressalta ela.
O vice-presidente de Economia e Estatística da ACI, João Bruxel, acredita que as únicas medidas efetivas para o setor seriam a redução da carga tributária e a criação de um dólar-referência. “Existem mecanismos para fazer isso, mas falta vontade política”, diz.
Bruxel afirma ainda que as empresa exportadores já fizeram a parte delas e agora falta o governo fazer a sua parte. “Para as empresas 100% exportadoras as medidas são inadequadas, para outras até podem servir, aquelas que vendem no mercado interno e uma pequena parcela na exportação”, completa.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Elcio Jacometti, as medidas são bem-vindas para o setor calçadista, mas “infelizmente não nos devolve a competitividade”, diz. Para o vice-presidente da entidade, Milton Cardoso, as medidas poderão ser benéficas assim que outras medidas forem definidas pelo Governo Federal.
“As medidas, na sua maioria, destinam-se primordialmente a reduzir o custo dos investimentos e seriam úteis em uma conjuntura em que o setor vivesse um momento de aquecimento, ou que necessitasse de atualização tecnológica. Mas estamos em um momento dramático, em que as exportações decrescem em quantidade de pares em razão da perda de competitividade imposta pelo câmbio”, complementa Cardoso.
O vice-presidente da Abicalçados ainda ressalta que no momento há sobra de capacidade instalada e o desemprego é crescente. As vendas do mercado interno caem vítimas da concorrência desleal das importações, que só nos quatro primeiros meses deste ano cresceram cerca de 60% sobre o mesmo período do ano passado. As taxas de juros dos financiamentos para capital de giro, embora tenham sido reduzidas, ainda representam o dobro do que pagam os nossos concorrentes chineses.
Milton Cardoso diz que a Abicalçados esperava ser atendida em um antigo pleito de que o aumento de carga tributária de quatro pontos porcentuais imposto pela alteração da Cofins em fevereiro de 2004 fosse revertido. Mesmo com as expectativas frustadas, Cardoso acredita que novas medidas poderão ser discutidas com os representantes do setor.