novohamburgo.org – Ao falar do magistério, a senhora sempre se refere a professoras. Lecionar é algo distante dos homens?
Marie Traude – Eu lembro de uma ocasião que havia um rapaz na turma cursando o magistério. Mas é bastante raro. Na escola de Ivoti, até acredito que tenha mais, mas é uma formação um pouco diferente. Eu acho que isso é cultural, porque se a gente vai perguntando lá no começo lá no século passado, as primeiras escolas eram todas fundadas por padres. A mulher não trabalhava fora.
A educação era essencialmente masculina. A mulher não sabia matemática, física, mulher não tinha o domínio da ciência. A mulher só sabia trabalhos manuais, culinária e olhe lá. E o que aconteceu: as primeiras professoras que começaram notaram que foi a profissão mais viável para mulher, porque ela era basicamente de um turno e a mulher trabalhava um turno e no outro ainda podia cuidar das tarefas de casa.
novohamburgo.org – Já hoje lecionam em dois ou três turnos para ter uma valorização justa.
Esse é um dos problemas da profissão. Ela foi desvalorizando financeiramente.
Marie Traude – Uma valorização financeira melhor. E esse é um dos problemas da profissão. Ela foi desvalorizando financeiramente. Quando eu entrei no Estado, no período do Dr. Leonel, nós éramos muito bem pagas. Eu sempre digo que as professoras da época podiam comprar carro, podiam comprar apartamento, sabe?
Eram 22 horas semanais ou quarenta e quatro e nós tínhamos, obrigatoriamente, sábado na escola. O sábado era o dia da reunião, com a direção da escola, do estudo, do preparo das aulas. Hoje está incorporado dentro do horário do professor que ele tem direito a essa preparação. Então, ele fica afastado da sala de aula para o preparo dessas tarefas.
novohamburgo.org – Quanto a lecionar para o curso de magistério, como foi esta experiência?
Marie Traude – Fui para o magistério e foi uma grande experiência, porque foi no magistério, com a supervisão das estagiárias, que eu comecei a conhecer as escolas municipais de Novo Hamburgo e de municípios vizinhos. Porque, se havia uma aluna de Estância Velha, Campo Bom, ela estagiava lá e nós íamos fazer a nossa supervisão de estágio lá. Me valeu toda essa bagagem.
Eu queria saber mais a fundo como era o funcionamento de um curso superior.
Na Fundação, eu fiquei de 91 a 95, porque eu trabalhava também na Feevale, no curso de Pedagogia com a disciplina de Didática e, quando foi em 94, eu fui convidada a trabalhar na área acadêmica à noite, na Feevale. Eu aceitei por um motivo: eu já tinha uma visão, desde a educação infantil lá no Oswaldo Cruz, depois o ensino médio no magistério, e eu queria saber mais a fundo como era o funcionamento de um curso superior. Só que eu estava lá há um ano, ou dois e fui chamada pelo reitor, que me designou a diretora de ensino do segundo grau. Ah, eu chorei muito, porque eu não queria, mas não tive como.
novohamburgo.org – Era o segundo grau da Feevale?
Marie Traude – Sim, o que existe até hoje. Até tinha o primeiro grau, que havia sido criado anteriormente e o segundo grau era nos turnos manhã e noite. E aí eu assumi esse desafio.
Ainda durante um ano eu continuei lecionando, mas vi que não dava. Como a escola tinha manhã e noite, então eu passava praticamente três turnos na escola, quando necessário. Mas foi uma experiência completamente diferente da que eu tive no Oswaldo Cruz, era outra filosofia de escola, mas devagarinho nós fomos nos ajustando, os professores, os alunos e eu.
Tenho também gratas recordações da escola de segundo grau da Feevale, eu só permaneci três anos lá, mas foi marcante aquele tempo, porque tive uma experiência muito rica no trabalho com o aluno do ensino médio, com todos os comprometimentos, os conflitos, a dificuldade que a idade tem.
novohamburgo.org – Então, Marie Traude é uma professora da educação infantil à graduação?
Marie Traude – É, até a graduação. Isso é ainda muito rico pra mim, sendo do Conselho de Educação, é uma bagagem que me dá muito suporte lá. Dentro de uma teoria, a gente tem um suporte prático, mas depois, quando eu comecei a estudar na Unisinos, a graduação, se começa a dar um suporte teórico à prática, mas mais aprofundado. Em 98, eu encerrei as minhas atividades dentro de escola como ensino formal, com salário, leis sociais, etc. Aí, eu já fazia parte do Conselho de Educação.
Em 1998, fecharam 40 anos. Eu digo que são 40 anos de escola, porque eu tenho muita saudade. Era muito bom.
novohamburgo.org – Como presidente do Conselho?
Marie Traude – Fiquei também como presidente do Conselho. Quando completou meu tempo no Conselho, me retirei, porque é saudável dar espaço a novos conselheiros, novas cabeças, novas experiências.
novohamburgo.org – Foram quantos anos em sala de aula?
Marie Traude – Em 1998, fecharam 40 anos. Eu digo que são 40 anos de escola, porque eu tenho muita saudade. Era muito bom.
novohamburgo.org – A senhora chegou a pensar que em 2008 poderia estar fechando 50?
Marie Traude – Podia ter fechado 50, eu queria, mas 40 está bom. Valeu. Hoje eu converso com os professores e eles contam o dia, a hora e os minutos pra se aposentarem.