novohamburgo.org – O senhor fala da importância das casas não terem sido destruídas, da manutenção da história. E como imagina o futuro? Como estará a Fundação Scheffel daqui a 10, 20, 80 anos? Como Novo Hamburgo irá preservar a sua história?
Scheffel – Ontem esteve aqui um grupo de pessoas. Quase 20 pessoas que estão se preocupando com o turismo. Eu disse para eles, no final, que houve um milagre. No futuro podem até pensar que eu tenha inventado. Mais pessoas o sabem, e é melhor que mais pessoas tenham o testemunho.
É sobre a Casa Schmitt-Presser. O prefeito Miguel Schmitz achou muito normal que se desapropriasse essa casa. “Essa casa ao lado nós damos pra você”. E eu disse que não poderia aceitar. Como colocar o meu atelier ao lado de um museu que se refere à minha obra? “Ah, isso te perturba?” Não, isso pode perturbar os outros. E isso me causou uma história. Poderia ter feito perder tudo.
Eles não desapropriaram e o que aconteceu: foi vendido separado, para Pedrinho Moraes. A casa não servia. Queriam abrir uma avenida para explorar a área dos fundos, de cerca de dois hectares. Eu disse que se fizessem grandes terrenos, poderia ficar uma coisa bonita, seria preservado como área verde. Se fizessem pequenos terrenos, como tinham estabelecido, iria virar uma favela.
Fui à casa dele, à noite, conversar. Era preciso primeiro saber o que era. E ele parece que achou melhor largar. Não sei por qual motivo. E ele vendeu e depois foi vendida para a Paquetá. Aí foram muitos anos e estava tudo pronto para ser loteado. Inclusive já estavam cortando árvores. Propuseram que eu fizesse um contato com o Arlindo Weber. Eu disse: “Não tenho argumentos, mas vou lá.”
Fui visitar a Paquetá, e continuava não tendo argumentos, mas disse a ele que “nós tínhamos de ver se não era o caso de recuperar essa casa”. Expliquei que estava no projeto da prefeitura e que depois eu não aceitei. E ele me disse que a eles não interessava restaurar. “O senhor restauraria para nós?” E eu disse: “Eu restauro para vocês”. “O senhor está disposto a assinar um documento?”. Eu disse que sim. Eles prepararam o documento e eu assinei que arranjava o dinheiro. No momento eu não tinha, mas que eu iria arranjar o dinheiro.
novohamburgo.org – E como o senhor conseguiu viabilizar a restauração?
Scheffel – Conversando com o com o Rolf (Rolf Zelmanowicz, humanista e fundador da Empresa de Previdência Privada APLUB), consegui convencê-lo para a APLUB fazer publicidade em cima da recuperação. Isso durou até 1985, até que veio o tombamento. O arquiteto que estudou na Alemanha disse que foi a casa melhor construída no Rio Grande do Sul em enxaimel. A taipa permaneceu até hoje. Não tem no Estado casa mais com taipa que tenha resistido.
O arquiteto que estudou na Alemanha disse que foi a casa (Schmitt-Presser) melhor construída no Rio Grande do Sul em enxaimel.
Minha suspeita é que meu antepassado, que era um grande conhecedor, e que era amigo deles, chegou na mesma época. Ninguém pesquisou ainda para saber quem construiu a casa para aquele major que trocou com o Schmitt nos anos 30 pelas Quatro Colônias. Mas era a mesma época em que chega, em 1825, o Scheffel.
Nesta história, tem ainda o telefonema de Manassés Goulart, que era engenheiro da Prefeitura. Eles iriam dinamitar o prédio da Casa Schmitt-Presser e, naquele momento, houve o cancelamento. Ele disse assim: “suspende!”. E se dirige a mim: “Scheffel, o senhor aceita um cafezinho?” “Sim. Cachimbo da paz!” Eu senti assim um alívio. Mas tomando com o cafezinho a responsabilidade, que eu não sabia. Ao menos, eu retardava.
novohamburgo.org – Não sabia como iria fazer, mas sabia que é o que deveria ser feito?
Scheffel – Eu não sabia. Mas aí voltei, falei com o Rolf. Eu me surpreendi e ele aceitou. E foi bom ter suspendido. Quando veio a resposta do patrimônio histórico, tinham decidido preservar uma casa alemã, uma japonesa e uma italiana. Coincidiu. Mas não se sabia ainda como ia ser, só que já se tinha o tombamento. A casa se mantinha. E eu tinha já recuperado a parte de baixo.
A conservação é que dá riqueza econômica. Temos a Europa inteira como exemplo.
Eu sei que houve em um certo momento em que surgiu também a questão do Cine Aida. Quando eu bloqueei o que estava acontecendo com o Cine Aida na prefeitura, se conseguiu na reunião em Porto Alegre com os arquitetos, para que o pastor prometesse recuperar como era o velho cinema. E éramos uns 13, 14 arquitetos.
Ele voltou para Novo Hamburgo, contratou um engenheiro, fez tudo ao contrário e ninguém protestou. Futuramente, nós teremos que mudar de novo, senão estraga todo o centro. Aí, lembro da união que temos em Gramado, e que Novo Hamburgo não aprende! Por que não aprende? É burrice ou é falta de conhecimento, de sensibilidade.
novohamburgo.org – Questão de interesse econômico?
Scheffel – Não pode ser! Porque justamente a conservação é que dá riqueza econômica. Temos a Europa inteira como exemplo. É que eles não sabem quanto custa o metro quadrado em Florença ou Veneza.