Se comenta sobre uma possível transferência sua para outra cidade, e o senhor começou dizendo que não quer sair daqui. Há algum movimento neste sentido?
Amorim – A Constituição Federal estabelece três garantias ao promotor de Justiça. Uma delas é a inamobilidade. Eu só saio se eu quiser. Ou se dois terços dos votos do Conselho Superior do Ministério Público, em caso de crime ou algo mais grave, assim decidirem. Mas não existe isto daí. A classe política adora fazer isso. Quando eu estava em Criciumal, em estágio probatório, pedi a impugnação do mandato eletivo do prefeito, do vice e de oito vereadores. A Câmara tinha nove, escapou apenas um. E logo depois fui promovido a Farroupilha e o prefeito começou a espalhar em Criciumal que eu tinha sido transferido, que me mandou embora.
Então não existe esse assunto de transferência. Agora, teve gente que foi embora de Novo Hamburgo e que brigou comigo. Esse rapaz que estou falando foi embora porque foi promovido, por méritos, então não vou ser canalha de dizer que ele foi embora porque brigou comigo, pelo poder que tenho.
Detesto edifícios, sinaleiras tão mal-estruturadas e demoradas, eu não gosto de asfalto, de cheiro de gasolina, não gosto do medo de ser assaltado na sinaleira, mas aqui me apeguei e aqui vou ficar.
E tem um magistrado aqui no Fórum que já tive um atrito com ele por causa de um ato que considerei arbitrário, por causa da garagem do Fórum, porque ele não permitiu ao promotor entrar. Eu tenho que sair do júri à noite às vezes e caminhar a pé até o Ministério Público por causa da briga de belezas, mas nada que vai nos fazer inimigos. Permanece o respeito tanto por este juiz que foi embora quanto por este que permanece.
É tem algo que não sei explicar, mas aqui eu me encontrei. E eu detesto edifícios, sinaleiras tão mal-estruturadas e demoradas, eu não gosto de asfalto, de cheiro de gasolina, não gosto do medo de ser assaltado na sinaleira, mas aqui me apeguei e aqui vou ficar. Talvez, numa possibilidade bem remota, de começar a ficar velho e querer fazer um concurso em outro estado, pegar uma beira de praia, como Florianópolis. Essa talvez seja a amante que pode se inserir no meio do meu amor por Novo Hamburgo.
O que tem de melhor e o que tem de pior em Novo Hamburgo?
Amorim – O melhor é esse rigorismo, que ainda existe, do germânico, esse bom conservadorismo que contagiou negros, índios, todos que vieram para cá. Isso de querer as coisas certas. Não vou dizer que as mulheres são bonitas, que a paisagem é bonita, isso não tem nada a ver, não é algo que eu vou me manifestar. Mas o que tem de pior é o que tem nas outras cidades também, que é essa arrogância, essa prepotência social que uma partezinha chamada elite tem. Isso é uma coisa nojenta.