novohamburgo.org – O que de mais marcante nas administrações passadas foi incorporado ao município?
Ruy Noronha – Existe uma coisa que foi implantada há anos atrás que ainda hoje nos rende frutos. A linha mestra da educação implantada pelo Sarlet, em alguns princípios, ainda hoje, nos beneficia.
novohamburgo.org – Com tanta pujança no passado recente de Novo Hamburgo, por que não conseguimos reagir mais fortemente às últimas crises?
Ruy Noronha – Não é uma situação isolada. É uma série de fatores. E não houve medidas conjuntas que pudessem superar os maus momentos. A prefeitura sozinha não consegue. Mas ela deve ser a promotora, a incentivadora dos setores empresariais e a representante destes setores. Foi um somatório de situações: crises econômicas internas, políticas cambiais equivocadas, mais recentemente uma nova crise econômica e antes do “Fator China” tivemos a guerra fiscal, que enfraqueceu o setor como um todo. Apesar de estar agregado ele ainda tem separações.
“No momento em que o estado busca resolver os seus problemas está criando um problema para os municípios.”
O calçadista tem uma perspectiva, o coureiro outra, o de máquinas outra. Se conseguirmos reunir estes três setores – eu acredito que não vá se recuperar toda aquela projeção – creio que é possível através da Fenac, termos uma entidade de representação e de pressão junto ao governo federal. A China está aí e temos de aprender a conviver com ela. O nosso know-how na área tecnológica, consolidado, deve alavancar nosso desenvolvimento e até nossa diversificação. Temos importantes estudos e avanços tecnológicos, nem de longe desprezíveis, para atender outros setores produtivos.
O mercado interno tem se mostrado interessante, assim como vários mercados estrangeiros. Nosso calçado tem muito valor agregado. Acho que é interessante preservar os interesses da nossa comunidade. O sapato injetado é muito bom, mas tem pouco valor agregado. Vamos buscar um sapato de melhor acabamento. Temos um centro tecnológico que ajuda muito. E a prefeitura pode alavancar esse crescimento, por exemplo, a partir da qualificação da mão-de-obra.
novohamburgo.org – O senhor acha que a prefeitura poderia interagir na liberação dos créditos de ICMS?
Ruy Noronha – Deveria! No momento em que o estado busca resolver os seus problemas está criando um problema para os municípios. Várias demandas são do estado e não da União. Mas no final das contas é do Poder Público. Várias demandas judiciais para obtenção de remédios. “Ah, mas isso não está na minha lista de responsabilidades”. Não importa quem paga: deve-se preservar a saúde! Nós temos que assumir de uma forma concreta. Não adianta ficar em cima de uma dialética. O cidadão está ali, ele é meu companheiro, meu vizinho. Não importa quem atenda, desde que seja atendido. E isso em várias situações. É um jogo de empurra.
Na medida em que a prefeitura exige, por exemplo, o crédito de ICMS, vai refletir direta ou indiretamente na saúde, na educação, na assistência. E eu fazendo isso aqui estou gerando uma atividade agregada. É uma bola de neve: profissionais, comerciantes. Nada se perde.