Filho do deputado Júlio Redecker, vítima do vôo 3054, fala sobre a perda do pai e do seu futuro político
Tudo aconteceu muito rápido e de forma inesperada. Uma tragédia aérea, um drama pessoal e familiar, dor, saudade. Aos 26 anos, Lucas perdeu o pai, o deputado federal Júlio Redecker, virou o “homem da casa”, o responsável pelos trâmites legais e burocráticos provocados pelo acidente e, ainda por cima, a referência imediata do partido, o PSDB, em Novo Hamburgo.
Desde o acidente com o vôo 3054 da TAM, em Congonhas, se passaram 24 dias de muito trabalho para Lucas. Só agora, três semanas depois, ele diz que a “ficha começa a cair”. A falta do pai, do amigo e do exemplo de vida, chamado Júlio Redecker, começam a pesar no jovem que, há três anos, foi convocado a levar o sobrenome famoso na eleição municipal à prefeitura local.
Agora, Lucas que meditar. Diz ter noção do consenso popular de que ele pode ser o sucessor imediato do pai no campo político. Alega que não quer ser oportunista e descarta, momentaneamente, disputar a eleição em 2008.
Nesta entrevista, concedida exclusivamente ao portal novohamburgo.org, Lucas Redecker fala, com a postura, a articulação e os ideais que tinham a marca do pai, sobre o pesadelo vivido a partir do fatídico 17 de julho, os exemplos deixados por Júlio e como pensa a sua carreira política daqui para a frente.
novohamburgo.org – Como está a família Redecker passados 24 dias do acidente que vitimou o deputado Júlio Redecker?
Lucas Redecker – Só sabe a dimensão da dor quem perde. A dor não é só minha, ou da minha família, é uma dor de 199 famílias. São pessoas que passam pela mesma dor, com relações diferentes. Um pai, uma filha, um primo, um tio, uma avó. Quem tem um vínculo direto sabe como é difícil.
Cada pessoa encara a morte de uma maneira. Eu desde guri viajava com o pai e fui em diversos velórios, às vezes sem conhecer quem havia morrido, apenas representando o pai. E é muito ruim ver o sofrimento das pessoas. Quando é com a gente, então…
Eu não devo dizer que estou revoltado. Acredito que todo mundo tenha a sua hora. Só que a gente não espera que seja no meio do caminho. Mas quem determina que seja o meio do caminho? Eu não determino isso. Eu acredito que Deus determinou isso. Que aquela era a hora.
A dor é aquela coisa: eu aprendi e me criei com a presença muito forte do pai. Eu perdi um pai, um irmão, um amigo, um companheiro. Ele foi tudo para mim. Eu perdi meu professor, meu irmão, meu pai. O meu pai não vai estar comigo nos melhores momentos da minha vida. Nas conquistas futuras. No casamento da minha irmã. Ele não vai envelhecer junto com a minha mãe. Nós tínhamos planos juntos. Isso dói. Cada dia que passa o vazio aumenta. Cada dia sinto mais a ausência dele.
O meu pai não vai estar comigo nos melhores momentos da minha vida. Nas conquistas futuras. No casamento da minha irmã. Ele não vai envelhecer junto com a minha mãe. Nós tínhamos planos juntos.
novohamburgo.org – A cada dia esse pesadelo se parece real? Vai caindo a ficha?
Lucas Redecker – É… E desde então eu não parei mais. Fiquei sabendo do acidente às 21h30min daquele dia. Minha irmã e minha mãe estavam em São Paulo. Iriam até Brasília, mas resolveram ir antes a São Paulo para ir numa loja. Estavam com a passagem marcada para ir com o pai, mas as duas resolveram adiantar o vôo e foram de manhã. Para ver como é para as coisas acontecerem…
Elas estavam na loja e eu estava em Cambará, em um sítio que nós temos. Às 21h30min, recebi uma ligação da minha namorada e ela me falou do acidente, que aconteceu assim, assim e assim. Eu liguei pra mãe e ela me falou. Peguei minhas coisas e vim para Novo Hamburgo. Cheguei aqui a 1h da manhã.
E a minha irmã mais nova estava nos Estados Unidos, com o namorado e com a família dele. Havia chegado em Orlando no sábado. Aí avisamos a família e pedimos, é claro, para eles não comentarem até que ela chegasse aqui. Falamos que havia um acidente com o pai. E até então nós também não tínhamos a confirmação. Sabíamos que avião havia explodido, mas que dez pessoas tinham saído com vida. Só não sabíamos se eram passageiros do avião.