novohamburgo.org – Qual avaliação o senhor faz da passagem de Bento XVI pelo Brasil?
Dom Zeno – Acho que foi muito positiva. O principal fato que destaco é que a imprensa do Brasil havia feito uma imagem muito negativa deste papa, que ele era muito fechado, muito sisudo e pouco comunicativo. E o papa mostrou exatamente o contrário. Mostrou muita desenvoltura diante das câmeras, falou muito bem o português, fez gestos bonitos. O alemão é um pouco mais sério, mas o papa se saiu muito bem.
E o papa tem um conteúdo extraordinário, fantástico. Ele é um homem que sabe o que diz e por que diz. Ele tinha uma agenda bem definida do que queria falar e fez isto com muita clareza. O papa veio ao Brasil para de fato defender a vida, defender a família, defender os valores morais e para dizer que, sobretudo, o que importa é a nossa fé em Jesus Cristo.
novohamburgo.org – Entre os discursos do papa, qual lhe chamou mais a atenção?
Dom Zeno – Para nós bispos, o mais importante foi o que ele fez na Catedral da Sé, quando ele disse tudo o que queria dizer para nós bispos, padres, seminaristas, cardeais e para o povo leigo. Ele queria que, depois, nós transmitíssemos isto para todos. No entanto, ele veio para a abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América-Latina e do Caribe e o discurso mais elaborado, mais preparado, foi o que fez no início da conferência.
novohamburgo.org – Um dia antes da chegada do papa, o IBGE divulgou uma pesquisa onde jovens católicos discordavam de posições da Igreja, inclusive 62% deles considerando-a atrasada. Como o senhor vê isto?
O jovem que não é casado não precisa de camisinha, porque ele não tem vida sexual.
Dom Zeno – Os jovens que estavam no encontro do Pacaembu e gritavam para o papa “Bento XVI, nós te amamos” devem saber que, quem ama, tem que fazer o que ele diz. E o papa foi muito claro no que disse. Por que ele é contra a camisinha? Porque o papa não quer ninguém riscando fora da caixa, esta que é a verdade. O papa quer a fidelidade dentro do casamento, quer a abstenção total até o casamento. O jovem que não é casado não precisa de camisinha, porque ele não tem vida sexual. O papa pregou nada mais do que os dez mandamentos. Não falou nenhuma novidade.
novohamburgo.org – Mas até que ponto, no mundo de hoje, as pessoas seguem fielmente estes mandamentos?
Dom Zeno – Aí que está. O problema é quando as pessoas não levam a sério. Os desmandos que temos aqui não é porque a Igreja aprova ou desaprova algo, mas sim porque as pessoas não estão dentro da Igreja, seguindo aquilo que ela diz. O que o papa disse não foi para fazer média, foi para orientar os que querem hoje ser católicos.
As seitas crescem em conseqüência do nosso relaxamento.
novohamburgo.org – O papa classificou de seitas as outras religiões, que acabam levando fiéis da Igreja Católica. Como o senhor vê o avanço de outras crenças sobre os católicos?
Dom Zeno – Tenho a impressão que a Igreja deve fazer o seu papel, deve orientar os seus fiéis e caprichar neste anúncio, fazê-lo da melhor forma possível. Agora, não deve ficar preocupada com o avanço das seitas, porque as seitas crescem em conseqüência do nosso relaxamento. Se levarmos a sério a nossa identidade, se fizermos aquilo que o papa mandou fazer, não temos de ter medo. Inclusive não tem acontecido o aumento destas seitas, pelo contrário. Não precisamos ficar temendo. Temos que fazer a nossa parte.