Ex-secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética relata situação em agosto de 1991 e se diz um “semi idiota”.
Da Redação [email protected] (Siga no Twitter)
Mikhail Gorbachev, 80 anos, último secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética. O homem que recebeu avisos sobre ser alvo de um golpe do então presidente dos Estados Unidos George Bush avaliou o ocorrido em entrevista a Der Spiegel, uma revista alemã.
O golpe ocorreu há quase 20 anos, em 19 agosto de 1991, numa ação dos conservadores soviéticos contra a Perestroika de Gorbatchev. Esses setores linha-dura não queriam a assinatura de um tratado que modificaria a relação entre as diversas repúblicas que formavam a União Soviética e que já estava pronto para Gorbachev assinar.
Ignorando os avisos de Bush, decidiu viajar para sua casa de campo e o golpe ocorreu. Revertido em três dias, o movimento linha-dura não conseguiu restabelecer o domínio comunista, e acabou por encerrar qualquer possibilidade de a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS continuar existindo, o que na época era motivo de preocupação tanto nos Estados Unidos quanto na URSS e hoje é motivo de lamentação para Gorbachev.
Confira um trecho da entrevista:
Spiegel: Você não acreditou nele [Bush]?
Gorbachev: Os conservadores tinham anunciado várias vezes que queriam se ver livres de Gorbachev, e tinham tentado isso em vários comitês, mas sem sucesso. Naquele momento, tínhamos um programa anticrise, que era apoiado por todas as repúblicas. O novo tratado de união seria assinado em 20 de agosto, e um congresso extraordinário iria reformar o partido. Os oponentes da perestroika sofreram uma derrota, e então organizaram o golpe.
Spiegel: E você decidiu ir de férias para a Crimea em um momento como esse?
Gorbachev: Eu pensei que eles seriam idiotas de assumir tal risco precisamente naquele momento, porque seriam varridos também. Mas infelizmente eles eram verdadeiros idiotas, e destruíram tudo. E nós [reformistas] provamos ser semi idiotas, incluindo eu. Eu estava exausto após todos aqueles anos. Eu estava cansado e no meu limite. Mas não deveria ter saído [de férias]. Foi um erro.
Gorbachev também fala de sua saúde (ele foi operado três vezes nos últimos cinco anos), se diz apaixonado pela política, diz que a democracia vai prevalecer na Rússia e avalia, com arrependimento, algumas das decisões que tomou quando era o homem-forte da URSS.
Informações de Der Spiegel
FOTO: reprodução / topnews.in